"Não há uma data precisa. Sabe-se que o que nos está reservado é o último trimestre, sabe-se também que vai ser no Palácio Anjos e que vai ter um espetáculo de entrega de prémios no auditório Ruy de Carvalho", afirmou António Antunes, que assina o seu trabalho gráfico apenas com o primeiro nome.

O cartoonista, em declarações à Lusa, salientou que "o World Press Cartoon é assumidamente anual", mas perante a falta de patrocínio, após várias edições nas Caldas da Rainha, teve de "procurar até encontrar outra autarquia que patrocinasse o evento".

"Como tivemos dois anos parados e não sabemos exatamente qual é o estado do 'cartoon' em termos internacionais, sabemos que muitos jornais deixaram de publicar 'cartoons', portanto, nós flexibilizamos um pouco mais, ou seja, aceitamos desenhos deste período que não tenham sido publicados", explicou António.

O organizador do certame acrescentou que os 'cartoons' inéditos "concorrem fora de concurso" e "não são candidatos aos prémios", com a exposição dos selecionados em cada uma das categorias.

"O salão continua dotado de uma aliciante estrutura de 10 prémios, que inclui um 'Grand Prix' de 10.000 euros", refere-se no 'site' do WPC, informando que, perante o interregno, "a título excecional, serão admitidos a concurso desenhos publicados num período alargado" de 01 de janeiro de 2024 a 15 de maio de 2025.

Segundo o regulamento, o WPC integra as categorias de 'cartoon' editorial, com obras sobre temas e acontecimentos específicos da atualidade, caricatura, com trabalhos de caricatura em sentido estrito, admitindo-se exclusivamente retratos humorísticos, e desenho de humor, acerca de temas sem relação direta com a atualidade.

São admitidos a concurso trabalhos publicados "em jornais ou revistas de periodicidade regular e de venda ao público, ou em publicações 'online' de reconhecida natureza jornalística" e não serão aceites "obras realizadas com recurso a ferramentas de Inteligência Artificial".

Além do grande prémio, serão atribuídos prémios no valor de 3.000. 2.000 e 1.000 euros para o primeiro, segundo e terceiro classificados, em cada categoria.

"Num momento particularmente difícil para o jornalismo a nível mundial, em tempo de múltiplas crises na imprensa, na economia e na política internacional, o World Press Cartoon continua a ser um hino à liberdade de expressão", destaca-se no 'site'.

Em relação ao hiato na organização do certame, António admitiu que "a realidade está a andar a uma velocidade" alucinante, mas o WPC vai "tentar mitigar isso o mais possível".

"O cartoonista é uma profissão, não sei se se pode dizer já que é uma profissão em extinção, mas que é claramente uma profissão em crise, isso é, inserida na crise mais geral que é a crise da imprensa escrita", apontou, lamentando que sejam "uma espécie do elo mais fraco desta cadeia", em que se começa "a cortar no 'cartoon'", na imprensa nacional e internacional.

Em termos de ameaças à profissão, o cartoonista português reconheceu que a fragilidade da profissão se complica quando entram em cena alegados delitos de opinião, como no caso que protagonizou quando o The New York Times retirou um 'cartoon' seu que representava Donald Trump cego guiado por um cão com a cara do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

"Não me parece que o New York Times esteja assim tão mal para acabar com os 'cartoons'. O New York Times não quer é ter esta voz que lhe escapa um pouco" e que "por vezes não é confortável para o próprio jornal", considerou.

Mais recentemente, o Washington Post também levou à demissão da cartoonista Ann Telnaes, quando viu recusado um desenho com "uma série de oligarcas" da tecnologia e 'media', como Zuckerberg, Altman, a Walt Disney Company e Bezos, proprietário do jornal norte-americano, a "depositar sacos de dinheiro aos pés do novo Presidente americano".

"Nesse conjunto de oligarcas que estavam a entregar sacos de dinheiro também estava o Bezos, e ela resolveu sair", ao ver recusado um trabalho não por dúvidas de compreensão, mas pelo conteúdo do 'cartoon', resumiu António.

Ao longo de 17 edições do WPC, em Sintra, Cascais e Caldas da Rainha, o salão levou também desde 2005 exposições a vários continentes, em dezena e meia de países, e estão em curso contactos para mostras na África do Sul, Argentina, Cabo Verde, Estados Unidos, Grécia e Suíça.

Fonte oficial do gabinete do presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, confirmou à Lusa a realização do WPC no município, mas que "ainda não estão completamente definidos locais e datas" do certame.

LFS // MAG

Lusa/Fim