No final do jogo com o Sporting, Pedro Emanuel disse que o melhor jogador em campo foi Rui Patrício. Tem razão, pois este, por três vezes, negou o golo aos estudantes. Aliás está lá para isso. Se tal não tivesse acontecido, a Académica teria ganho.

Na verdade os de Coimbra, durante setenta minutos, foram sempre melhores do que os de Lisboa. Contudo, para este técnico, a preocupação futura terá de ser a de recuperar fisicamente a equipa, que nos últimos vinte minutos estava completamente de “gatas”, e por isso, defendia de qualquer maneira, num “tira a bola daqui”, “sem pés nem cabeça.”Deu o “berro” e proporcionou aos leões uma parcial recuperação que até poderia ser total.

Jesualdo Ferreira afirmou no final do jogo que não compreendia como o Sporting tinha dado quarenta e cinco minutos de avanço e que nem encontrava explicação para tal. «Dia a dia trabalhamos muito para recuperar etapas no desenvolvimento da equipa e não dos jogadores. Os jogadores devem ter confiança pois é um privilégio jogar no Sporting, com a idade que têm, mas quando se ganha um degrau, não se pode descer outro. Temos de trabalhar, o tempo é curto mas é o que existe», afirmou o técnico.

O Sporting tem um modelo de jogo, o qual deveria resultar em pleno. Contudo não se consegue expressar na totalidade. As exibições são intermitentes e descontínuas. Durante esta época, o Sporting, mesmo perante equipas inferiores, não apresenta um futebol autoritário, dominador, esclarecido e eficaz. Atua em função do modo de jogar dos opositores. Mas jogar contra o Porto é uma coisa, defrontar a Académica é outra.

Contra o Dragão a estratégia baseada numa lógica defensiva para não sofrer golos e aproveitar o contra ataque resultou quase em pleno. Frente aos estudantes a estratégia teria de ser de ataque. Exigia-se a escolha de elementos com qualidade técnica- tática que pudessem interpretar o diferente plano elaborado pelo treinador. Contudo, Jesualdo escolheu os mesmos jogadores.

Mas com este trio do meio campo, o jogo leonino não funciona. O meio campo é a zona onde se iniciam a maioria das jogadas de ataque e, simultaneamente, é a fronteira onde se deve anular as ofensivas adversárias. À Rinaudo, Adrien, e Eric faltam-lhes pressing, dinâmica, velocidade, ideias organizativas, técnica e sobretudo tática.

Ao treinador compete planear o jogo, ensaiá-lo e transmitir aos jogadores o envolvimento das movimentações atacantes e da recuperação defensiva. O planeamento não é compreendido só por meio de palavras, terá de ser ensaiado e praticado nos treinos. Os jogadores, depois de assimilarem como devem interpretar o jogo, devem repeti-lo em campo.

Durante o jogo, ao treinador basta-lhe ir corrigindo ao chamar por gestos a atenção a este ou aquele elemento que não está a cumprir. Se não se planeia, se os jogadores não assimilam, o futebol praticado fica dependente do acaso e do individualismo dos jogadores. Foi o caso de ontem. Quando não há organização, é natural que saia “melão”.

Quanto à confiança dos jogadores, esta passa substancialmente pelo trabalho psicológico do treinador. Para além da motivação intrínseca dos jogadores, compete ao técnico elevar a autoestima, a confiança e criar um espírito de ambição nos jogadores. Para existir esta empatia é fundamental manter um discurso construtivo e uniforme, quer na hora da derrota, quer quando se ganha. Também é importante que o discurso que deveria ser privado, não se pronuncie em público.

Para evitar descer o degrau, o treinador como guia responsável terá de ser o elevador que eleve os jogadores e a equipa até ao topo. Trabalhar é preciso, mas há trabalho e trabalho. A questão do tempo ser curto é a frase atenuante e desculpa de todos os treinadores que passaram esta época pelo Sporting.

Se ao fim de dois meses um treinador não consegue transmitir e introduzir na equipa todos os seus conhecimentos futebolísticos, é porque, por vários motivos, a transmissão ou a assimilação tardam a entender-se!