Irão, Rússia, Argentina e Portugal. Duvido que alguém no mundo se tivesse de apostar nos 4 finalistas na entrada deste Campeonato Mundial conseguisse acertar em cheio ou até em 3 das 4 seleções que estarão presentes até ao último dia da competição a lutar pelo Campeonato e pela medalha de bronze.

Olhar para este lote de equipas e não vislumbrar Brasil, Espanha e Itália faz os mais céticos sentirem-se órfãos dos grandes jogadores e das grandes equipas da modalidade (teremos um terceiro país campeão mundial pois até hoje apenas Brasil e Espanha vislumbraram essa conquista).

Para mim, que sou um otimista, vejo com agrado. É um salto qualitativo da modalidade, um abrir de portas da mesma a todo o globo e sinal de que hoje em dia as diferenças, além de serem menores, são suplantadas com organização, inovação e método.

O Irão não é propriamente uma seleção desconhecida e tem no seu currículo alguns títulos de campeão asiático e paulatinamente tem vindo a demonstrar sinais claros da evolução da modalidade no país com uma liga forte, que conta com os melhores jogadores nacionais, e com o desenvolvimento de verdadeiros jogadores de futsal como Esmailpour, Javid, Tavakoli e Tayebi. Depois de uma fase de grupos em que se cotou como um dos melhores terceiros lugares (com os mesmos 4 pontos do Azerbeijão e com boa réplica no confronto com a seleção espanhola), o Irão espantou todo o mundo ao eliminar o campeão mundial em título Brasil nos oitavos de final e o organizado Paraguai nos quartos de final. Nas meias finais espera-se uma equipa motivada, organizada, a apostar novamente no seu jogo interior forte com destaque para a preponderância das combinações com os seus pivots e muita acutilância nos remates exteriores.

O adversário será a vice-campeã europeia Rússia, que após uma fase de grupos perfeitamente imaculada e sem qualquer tipo de dificuldades (cilindrou Tailândia, Cuba e Egito), esmagou o Vietname nos oitavos de final (7-0) e marcou a reedição da final do último campeonato da Europa para os quartos de final com a Espanha. Aproveitou bem as limitações físicas da equipa espanhola (com apenas 8 jogadores de campo), e devolveu a frio uma vingança depois do 3-7 dessa final europeia, com uns expressivos 6-2 em seu favor e a mostrar que ao contrário desse Europeu, pode contar com Eder Lima, o melhor marcador do último mundial e uma das maiores estrelas atuais da modalidade. Gustavo, Robinho, Romulo (que por acumulação de cartões não estará presente nas meias finais), mas também Chiskala, Abramov, Davidov e Liskov, dão uma amplitude de opções à seleção russa que os coloca neste momento, e tendo em conta o quadro competitivo, como os principais favoritos à conquista do título mundial.

A Argentina, a par com o Brasil e a Espanha, é a única seleção com presença em todos os campeonatos mundiais e um histórico do futsal sul-americano. Com esta presença nas meias finais já igualou a sua melhor presença de sempre (4º lugar em 2004). Com um lote de jogadores de eleição e nos principais campeonatos europeus (Espanha, Itália e Portugal), a seleção alvi-celeste surge como um obstáculo muito difícil para a seleção portuguesa e um jogo que será decidido seguramente em um ou outro pormenor ou momento do jogo de maior concentração e decisão de ambas as equipas. Com uma fase de grupos em que o destaque vai para a vitória face ao Kazaquistão, a Argentina conseguiu superar nos oitavos de final a Ucrânia e nos quartos final a seleção Egípcia (que havia tido nos oitavos de final o seu maior momento do futsal do país até aos dias de hoje ao derrotar e eliminar a toda poderosa Itália). Comandados pelo capitão Fernando (jogador do SL Benfica), a seleção argentina é uma equipa muito similar à seleção portuguesa, pressionante, que gosta de assumir as despesas do jogo e conta com Rescia (ainda em dúvida a sua utilização), Alan Brandi, Sarmiento, os irmãos Vaporaki, Cuzolino e Borruto, jogadores de enorme qualidade técnica e capazes de decidir um jogo.

Para a seleção portuguesa tudo correu de feição. Mesmo a entrada menos positiva neste Mundial (empate a um golo com a Colômbia na estreia e conseguido 'in extremis' no último segundo de jogo) foi o toque a reunir necessário e que focou todo o grupo na necessidade de abordar todos os jogos com a máxima seriedade e competência para chegar ao que todos desejávamos: estar em condições de igualar ou até melhorar a medalha de bronze conquistada na Guatemala no longínquo ano 2000. A lesão de Vitor Hugo tão bem aproveitada pelo até ao momento gigante Bebé, a lesão de Cardinal que permitiu testar e com nota bem positiva o plano B da seleção a jogar sem Pivot (bem como a sua recuperação em tempo útil de jogar os quartos de final e ajudar a eliminar o Azerbaijão) e o excelente nível de jogo apresentado por Tiago Brito, Bruno Coelho, João Matos, André Coelho e Miguel Angêlo, permitem a esta seleção ser muito mais do que Ricardinho e mais quatro. Mas o melhor do mundo tem estado também ele num momento de forma que pode fazer desta caminhada de Cali épica (apenas um jogo fora desta cidade onde se jogará o percurso que falta para a nossa seleção). Com 12 golos é neste momento o melhor marcador do torneio, e a grande referência da modalidade no pós-Falcão. Adorado pelo público, pelos rivais, Ricardinho pode ser o fator decisivo deste Campeonato Mundial, a cartada que Portugal terá sempre que um jogo estiver mais difícil, seja a decidir, a marcar, ou a desviar as atenções dos outros jogadores que tão boa conta do recado têm dado.

Vivemos uma semana que pode ser histórica para a modalidade. Portugal está a disputar o campeonato do mundo de futsal, e não sendo favorito não é definitivamente um outsider, e pode, num bom dia, trazer o caneco para terras lusitanas. Deixem-nos sonhar... Vamos a eles rapazes!