Antes dos jogos, escutamos e lemos as mais variadas e antecipadas retóricas opiniões do que vai acontecer. Eu respeito os palpites dos "futebólogos", mas prefiro ouvir ou ler o que pensam aqueles que mais sabem, os treinadores.

Acompanhei com atenção esta conjetura verbal que visa a obtenção do melhor resultado na primeira eliminatória e ouvi Jesus dizer que «o Benfica normalmente faz golos em qualquer lado», o que é verdade, mas também escutei-o quando disse que «o Fenerbahçe estaria concentrado em não sofrer golos». E li ainda que, «a estratégia para certos jogos pode condicionar ideias diferentes». Esta resposta indiciava que o Benfica iria ter algumas cautelas, mas não esqueceria a baliza dos turcos.

A opinião do treinador Aykut Kocaman ao afirmar «que as fragilidades do Benfica estavam no eixo central da defesa», poderia indicar que, teoricamente, o técnico turco tinha em mente explorar o setor defensivo das águias, e que este desejo contrariava a deia de Jesus, o qual esperava um Fenerbahçe mais concentrado em defender.

As antecipadas previsões e os contraditórios cenários fazem parte do futebol. Mas uma coisa é a teoria, outra é a prática. Liguei a televisão, esqueci que os princípios de jogo não interessam nada e comecei a observar as imagens do jogo. O que vi foi um Benfica cauteloso, a tentar jogar para obter um resultado satisfatório que lhe permitisse resolver a eliminatória na Luz. O resultado foi muito bom, mas o resto...

O Benfica até poderia ter marcado logo aos cinco minutos dado que teve nos pés de Sálvio a primeira oportunidade de golo, mas Demirel defendeu. De facto, o Benfica nos 15 minutos iniciais equilibrou o jogo, mas daí para a frente nunca mais se entendeu nem acionou o antídoto para anular o previsível estilo de futebol direto dos turcos. E só na fase final, com a entrada de Carlos Martins, é que as coisas serenaram. Na última meia hora da primeira parte o Benfica sofreu imenso dado que para além da oportunidade de Webó os encarnados ainda viram a bola embater nos ferros por duas vezes.

O Benfica apesar de ter em Matic o seu jogador mais regular em termos exibicionais, ontem, sozinho, o médio sérvio não chegou para as encomendas e o stor mais vulnerável acabou por ser o intermédio. André Gomes apesar de ser um jogador promissor não tem o vigor nem a agressividade exigidas em jogos desta importância. Aimar foi um excelente jogador, mas hoje não tem o ritmo nem a dinâmica para expor o seu talento e o jogo de ontem comprovou-o. Não se sabe qual terá sido a ideia que levou Jesus a colocá-lo no onze inicial, pois defensivamente Aimar é nulo, e em termos organizativos de retensão de bola foi inoperante.

Na segunda metade, os diabos turcos continuaram à solta no relvado de Istambul. Forçaram Artur a defender duas bombas oriundas de fora da área. Artur sentiu outra vez um calafrio ao ver a bola bater no poste a remate de Kuyt, lembrando-se de lances antecedentes que aconteceram nos jogos com o Leverkusen e com o Newcastle. Caso o Benfica vença a Liga Europa, a qual está ao seu alcance, e o que seria prestigiante para o futebol português, poder-se-ia dizer que foi tirada a ferros, literalmente. Aliás o golo de Korkmaz ainda bateu no poste.

Este resultado é excelente, mas a exibição não esteve à altura do que o Benfica pode fazer e que tem feito. Muito passes errados, falta de ligação entre os sectores, falta de pressão, de circulação e retenção de bola. Submissos e dominados por uma equipa mediana.

Contudo, Jesus, dado os resultados, tem gerido acertadamente este período decisivo, quer para vencer o campeonato quer para ir à final de Amesterdão, apesar do Benfica nestes dois últimos jogos demonstrar atravessar um momento menos bom. Todavia, o Benfica face a esta gestão deve surgir no seu melhor no jogo da Madeira.

Neste duelo entre infernos, o de Şükrü Saracoğlu foi ultrapassado só com uma queimadela. Quinta-feira, os turcos serão diabolizados no Inferno da Luz. Existe uma grande expectativa de quais serão as “almas penadas”. As turcas ou as portuguesas? Porém, esta mínima vitória abre caminho às águias para a final de Amesterdão.