A época do Benfica começou como quase todas: com fé, com promessas, com camisolas novas e declarações de amor eterno à mística.

Na pré-época viu partir João Neves, menino bonito da Luz e da Madalena Aragão, vendido ao PSG por um valor que se mede em PIB's de países médios e em noites mal dormidas na Luz.

Mais um jovem português a emigrar para França, como tantos outros à procura de uma vida melhor. Fica a certeza que nas férias irá passear por terras lusitanas ao volante de um BMW com um 'aileron' tipo jato.

Foi o fim de um ciclo e o início de um lamento. A primeira baixa emocional antes mesmo do apito inicial.

Roger Schmidt, fiel ao seu evangelho tático, voltou a insistir que o futebol se joga em zonas e não em momentos — uma tese académica que durou... quatro jornadas.

Ainda assim, em três jornadas fez o 'triplete': perdeu um, ganhou outro e empatou o último jogo. Com as ideias confusas, os adeptos começaram a murmurar, 'já vimos este filme e não gostamos muito do final'.

Quando à derrota em Famalicão se juntou o empate com o Moreirense, o inevitável aconteceu: Roger foi despedido com a frieza burocrática de quem cancela um contrato de fornecimento de armas a um Estado menor, mas com uma bela reforma assegurada.

Chega Bruno Lage com a cara lavada e um discurso leve, quase primaveril e para surpresa geral... resultou.

As primeiras jornadas foram uma sequência de vitórias que trouxeram à Luz aquela euforia do 'agora é que é'. O Benfica jogava mais solto que o arrozinho da esposa do Cândido Costa, mais rápido, com menos GPS e mais instinto.

Di María rejuvenescido, Kökçü finalmente a jogar onde sabe, e o meio-campo a funcionar como um relógio suíço — daqueles que se compram na feira, mas ainda duram uns meses.

Em janeiro, vence a Taça da Liga, conquistada frente ao Sporting, na lotaria das grandes penalidades e pelos pés de Renato Sanches....  Olhando para a recente final da Taça de Portugal, como é irónico o destino. O final foi com direito a lágrimas, celebrações discretas e promessas de que mais haveria de vir, neste caso não títulos, esses secaram por ali, mas talvez finais.

Não houve festa no Marquês, mas houve post motivacional para os 'influencers' partilharem.

Na Europa, o Benfica ultrapassou a primeira fase da Liga dos Campeões com distinção. Pelo meio golearam o Atlético de Madrid por quatro bolas sem resposta e já não se viam os espanhóis a fugir assim de portugueses desde os tempos da Batalha de Aljubarrota. Nos oitavos de final mediu forças com o Barcelona, numa eliminatória com mais estatísticas do que remates à baliza.

O primeiro jogo foi digno. O segundo, nem por isso.

O Barça, com esta nova geração cujos nomes parecem 'passwords' de Wi-Fi, passou com eficácia.

O Benfica saiu de cabeça erguida, ou seja, de cabeça feita em água, mas com dignidade na narrativa oficial. Aquelas vitórias emocionais para verem se a equipa motiva para o que falta jogar das competições internas.

Na Liga, a tal sequência vitoriosa inicial deu esperanças. O Benfica colou-se ao topo, respirou fundo e fez contas.

Mas o futebol, como a vida, cobra juros.

Vieram os jogos em campos pequenos, os relvados armadilhados, lances falhados, os cruzamentos para ninguém e os golos sofridos aos 93'.
Quando o calendário apertou ali entre janeiro e fevereiro, as pernas tremeram, mas o sonho voltou na reta final para se tornar num pesadelo após o empate em casa frente ao Sporting. Na última jornada em Braga, tal como os balões do Bruma, devagar a esperança foi-se esvaziando.

Na final da Taça de Portugal, no Jamor, frente ao Sporting, a última chance de fechar a época com um sorriso.

O jogo foi intenso, equilibrado, dramático. 90 minutos de nervos, prolongamento de angústia... e vitória dos verdes. Festa do outro lado.

No lado encarnado foi o momento 'Faroeste', com o Benfica e a sua direção a dispararem para tudo o que era lado. Já o 'Homer Simpson' dizia, "se a culpa é minha, eu coloco-a em quem quiser".

Numa época frustrante para os adeptos do Benfica, segue-se o Mundial de Clubes. Resta saber se com ou sem Di Maria, ou como carinhosamente é tratado por cá, 'Di Magia'.

Portugal e em especial os benfiquistas vão sentir falta do craque argentino.