Os que acompanham a seleção nacional de futebol foram avisados da importância do jogo da passada 6ª feira contra a Irlanda do Norte. E das supostas dificuldades, até porque tinha sido essa mesma equipa irlandesa a derrotar o grande adversário português para o apuramento direto, a Rússia, por 1-0.

Mas assistir a um jogo da nossa seleção remete-nos para uma avaliação para lá das opções do treinador Paulo Bento ou da qualidade técnica e tática dos jogadores. Noventa minutos em que conseguimos observar estados díspares ao nível da motivação, entrega ou do foco dos jogadores e que não podem ser explicados apenas porque entre essas mudanças existe alguma intervenção de Paulo Bento.

É notório que existe algo a trabalhar no alinhamento dos jogadores e no compromisso com a equipa. É natural que um atleta tenha dias maus e com isso, jogos com menor rendimento. E aqui até poderíamos separar se existiria dedicação mas menor qualidade em alguns jogos. Mas durante o mesmo jogo, alguns jogadores ligam e desligam diversas vezes do jogo.

O caso do primeiro golo da Irlanda do Norte é um enorme exemplo. Um canto direto para a pequena-área e Rui Patrício soca a bola para um novo canto. Quando se levanta repara que não existia nenhum adversário e pergunta aos dois colegas portugueses porque ninguém o avisou. Assim era dispensável a sua ação. Desse canto, nasce o golo da Irlanda. O marcador do golo, curiosamente, está a ser marcado à zona por João Pereira e sai da sua zona e vai andando sem que ninguém vá avisando o colega dessa movimentação. A marcação à zona nos cantos exige concentração coletiva e predisposição para comunicar e ajudar o colega. O trabalho coletivo nas seleções apresenta a dificuldade de em pouco tempo ter de alinhar um conjunto de necessidades em prol da equipa. Nos clubes é mais fácil. A ideia provavelmente é conseguir trabalhar mais e melhor estas vertentes de saber-estar e agir na seleção.

Outra emoção será certamente esta 2ª parte da nossa Liga após o término das contratações. Que por sinal coincidiu com uma pausa para a seleção. Excelente, dirão alguns, mau, dirão outros. Ao nível dos processos de grupo, uma vitória pode ser o melhor psicólogo, uma semana sem jogar para quem perde pode ser o pior pesadelo.

Face à organização e ao trabalho constante em prol do foco coletivo, o Porto continuará a sua identificação com o novo treinador. Tirando os jogos da Liga dos Campeões, prevê-se que internamente, o grupo esteja mais do que preparado. Direi que o grande privilegiado desta pausa foi o Benfica. Pode finalmente saber com quem contar ou não, neste caso, até mais por causa das lesões. Ao nível do trabalho mental, mais dias sem tanto foco em torno dos jogadores e de Jorge Jesus, pode ter criado condições para um novo ciclo mais vitorioso e menos atribulado.

O Sp. Braga terá certamente convivido pior com este momento após a eliminação das competições europeias. Mais ansiedade, frustração e a necessidade de criar dinâmicas de foco do que existe ainda para conquistar. Por fim, o Sporting que tem destacado as suas notícias mais nas tarefas diárias de gestão e disponibilizado mais tranquilidade a Leonardo Jardim. Bom. A pausa penso que trouxe algo menos benéfico: encurtou a distância que levava à frente na melhor preparação em termos de cooperação, comportamento e entrega que os jogadores demonstraram. E isso trabalha-se e muito!