Em tempos de Páscoa, decidi falar da ressurreição de Daniel Bragança, um dos melhores talentos da sua geração a nível nacional que passou desde muito cedo por inúmeras dificuldades para conseguir jogar o seu futebol. De recordar que lesionou-se de forma muito grave na última temporada estando praticamente uma época desportiva sem jogos disputados.
Quando penso no jovem médio do Sporting CP, a primeira recordação que me passa pela cabeça é o losango da seleção sub-21 com Florentino, Bragança, Vitinha e Fábio Vieira. Também em tempos de Páscoa, é importante falarmos do melhor chocolate que vimos numa equipa de Rui Jorge, onde também Daniel Bragança teve uma enorme importância. Vitinha atingiu o seu potencial, Fábio Vieira deu um salto (precoce) para o Arsenal e Florentino vai atingindo todo o seu potencial, com intermitências na titularidade do Benfica.
Falta Daniel Bragança...
E se um contexto geralmente define a qualidade de um jogador, também o contexto atrasou a progressão de Daniel Bragança. Sendo um médio de toque curto, de jogo apoiado e que beneficia de um meio-campo a três, quase sempre jogou no Sporting com um meio-campo dois (quando jogou). Na primeira temporada teve a oposição de Palhinha e João Mário, na segunda apareceu Matheus Nunes, posteriormente surgiram os nomes de Ugarte e recentemente Morita e Hjulmand também o ultrapassaram na hierarquia.
No entanto, Bragança vem se mostrando com um médio cada vez mais completo nas oportunidades que lhe são conferidas. A qualidade técnica nas ações em espaços reduzidos permanecem (apesar de não ter muitas vezes os companheiros corretos para ajudar na sua decisão), mas melhorou também o seu raio de ação (importante num meio-campo a dois), bem como as suas ações defensivas - disponibilidade, ocupação de espaço, desarme e agressividade nos duelos.
Ainda não ganhou a hierarquia do Sporting, mas vai ganhando a hierarquia dos corações dos seus adeptos. Hjulmand garantirá melhor cobertura defensiva para as suas ações ofensivas, mas Morita dará melhor continuidade ao seu jogo. É complicado definir qual seria o melhor parceiro de Bragança num meio-campo a dois, todavia, faz cada vez mais sentido o jovem português fazer parte dele.
De que forma a carreira de Bragança foi inibida em consequência das poucas oportunidades oferecidas por Rúben Amorim? Não é uma crítica até porque, como já vimos, Amorim teve sempre muitas soluções de qualidade para o seu meio-campo, mas Daniel Bragança também poderia ser uma delas. Tal como muitos jovens talentos, Bragança é um outro que precisa de consistência exibicional, sendo que tal só irá aparecer com consistência de jogos no 11 titular.
A preparação para a titularidade é uma não questão. A questão é: quem sairá do 11 para ele ganhar o seu lugar?
PS: Rafael Pacheco, treinador e analista de futebol, tem nas bancas o livro 'Rogerball - O Benfica de Schmidt', onde analisa a época do Benfica em 2022/23, que levou os encarnados ao título de campeão nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.
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