Visitei o Mister José Mourinho em Manchester na mesma altura (diferença de meses) que o Ruben Amorim o fez.

Não sei com que impressão ficou mas, para mim foi visível que o líder português remava sozinho contra uma corrente focada no passado, procurando paralelismo com o sucesso dos tempos de Sir Alex Ferguson, quando deveriam focar-se no presente e sustentar o futuro.
Foi um erro crasso. Os fantasmas criam-se quando se olha o passado dando-lhe importância excessiva, no sentido de condicionar o presente.

Não só os tempos não se repetem como, mais, nada é igual. Nada.

José Mourinho ganhou uma Liga Europa, ficou em 2.º lugar numa Liga de contexto competitivo muito elevado e, pouco depois de o visitar, acabou por sair do clube.

Talvez por não falar com sotaque Escocês, mas sim em bom Inglês, claro, com o seu toque bem Português.

Na altura senti um clube sem rumo estrutural. Não o senti sem líder - arriscado seria dizer que a referência mundial de liderança, Mourinho, não saberia gerir a equipa do United. Senti foi, uma desconexão interna entre os vários sectores.

Sou uma pessoa ativa, observo, recolho o máximo de informação, aponto as minhas notas, reflito sobre o que vejo e do meu ponto de vista aprendo.

Desde o momento de entrada no portão do centro de estágio, sentia-se desconexão, falta de comunicação. Dentro dos edifícios de escritórios observa-se um certo um vazio. Na cafetaria, um desconforto no ar.

Algo não fluía. A energia esperada não existia.

Lembro-me do entusiasmo que senti antes de entrar no centro de estágio. Iria visitar não só o Mister José Mourinho, a referência, mas também um clube histórico, sempre com grandes jogadores, com conquistas enormes no mundo do futebol, com momentos trágicos e marcantes, com um estádio mítico, com uns adeptos incríveis, numa cidade vibrante e energética.

Acácio Santos com José Mourinho no Manchester United
Acácio Santos com José Mourinho no Manchester United Acácio Santos com José Mourinho no Manchester United créditos: Acácio Santos

Imaginava o que era para aquelas pessoas a satisfação de poderem trabalhar e fazer parte de um contexto como aquele.

Seria um acordar de manhã, tratar rápido de tudo e ir com vontade e prazer de trabalhar num clube como o Manchester United? Pensava eu que seria isso. Não consigo certamente falar de todos, mas falo sim do que vi e vivi.

José Mourinho era um pouco a luz daquele pessoal preso ao passado e ao tal sotaque escocês. Era um abanão de luz que os levava a abrir os olhos, a sentir a pele e perceber onde estavam, em que época se encontravam e como desfrutar.

Este é um exemplo de como devemos encarar as circunstâncias onde vivemos, e de como há sempre duas opções (no mínimo) para tomar, o lado mais positivo ou mais negativo. Mas, independentemente disso, uma coisa seria fundamental - estar no presente.

Definir os objetivos de vida, estar enquadrado com os objetivos do contexto onde trabalhamos e viver o dia a dia. Desfrutar da oportunidade.

Ruben Amorim, abraça agora um contexto que me parece diferente. Melhor até.

A pressão de ganhar é menor. Existe a mesma ambição gigante do clube, donos e adeptos, de conquistas, mas de acordo com os últimos resultados, existe mais equilíbrio na expectativa.

O atual dono do clube fez um despedimento de pessoas em número elevado, o que não concordo, já que não se mudam sociedades, movimentam-se, sim, interações. Porém, diminuiu o impacto e presença do 'fantasma' Sir Alex Ferguson. E assim, começa com Ruben a criação de um novo Manchester United.

Um novo United, onde o sotaque do passado é só a referência que deve ser, de como é possível, com liderança, visão e trabalho, obter o ambicionado sucesso.

Posto isto, partilho sete pontos que me parecem fundamentais para o início de Ruben no clube:

1.º -  Organizar a casa. Estruturar ligações. Fazer mudanças na estética do espaço, criar novas formas de comunicação, aproximar os funcionários à dinâmica do dia-a-dia, valorizar os adeptos pelo carinho e proximidade.

2.º -  Estar próximo e sem ruído da estrutura que decide no clube - Diretor Desportivo e CEO.

3.º -  Estar próximo dos jogadores. Criar um espaço de todos para todos. Ouvi-los.

4.º -  Definir objetivos e partilhá-los. Objetivos de fim de época e de competições. Partilhá-los com a estrutura do clube, incluindo funcionários.

5.º -  Definir micro objetivos para cada jogador e sector da equipa. Exemplo, um objetivo para a linha defensiva - quantos remates permitiram, quantos jogadores adversários romperam dentro da área sem estarem fora de jogo, etc., e melhorar.

6.º -  Ser do Clube. Sentir o clube. Sentir cada pessoa que trabalha no clube, sentir cada adepto que suporta o clube.

7.º -  Celebrar as conquistas da concretização dos objetivos com todos, mas todos os funcionários do Clube.