A última jornada do Grupo F coloca em confronto a atual campeã do Mundo, a França, face ao atual campeão da Europa, Portugal, consubstanciando-se provavelmente no jogo mais interessante desta fase de grupos do Euro-2020. Este jogo está marcado por um contexto positivo para Portugal que emergiu na 2ª feira passada, enquanto os jogadores portugueses “recuperavam da azia” do jogo com a Alemanha: o fecho dos grupos B e C ditou que os seus 3º classificados tivessem 3 pontos. Concretamente, a Finlândia com uma diferença de golos de -2 (1 golo marcado e 3 sofridos), e a Ucrânia com uma diferença de golos de -1 (4 golos marcados e 5 sofridos).

Sabendo-se que à partida para este jogo Portugal tem já 3 pontos e uma diferença de golos de +1 (5 golos marcados e 4 sofridos), e lembrando que apenas os dois piores 3º classificados não seguem para os 1/8º final, Portugal pode até perder por dois golos de diferença com a França, considerando que o terceiro critério de desempate depois do (i) número de pontos, e (ii) diferença de golos, é (iii) o número de golos marcados. E nesse último indicador Portugal já superou dois 3º classificados concorrentes.

Contudo, a maior influência das classificações finais da Finlândia e da Ucrânia não se fazem sentir sobre a equipa portuguesa, porque na verdade Portugal irá ter que dar o seu melhor sob pena de perder por mais de dois golos de diferença e ficar de fora do play-off. A maior influência faz-se sentir na verdade sobre a França, pois com a vitória frente Alemanha e o empate com a Hungria conquistou já 4 pontos. Ou seja, os resultados da última jornada dos grupos B e C determinaram que a França encontra-se apurada para os 1/8º de final da prova ainda antes do confronto com Portugal, e isso sim vai exercer alguma influência na dinâmica competitiva do jogo em si.

É muito possível com isto que a França venha a promover alguma rotatividade na sua tradicional equipa titular. Veja-se o que fez a Itália na última jornada do grupo A quando já tinha o apuramento garantido. Podemos dissertar sobre os jogadores que vão sair e os jogadores que vão entrar na equipa da França, mas na verdade é algo absolutamente imprevisível: pode dar-se o caso dos jogadores-chave jogarem só 60 minutos, como nem sequer jogarem. Uma coisa é certa: vai ser muito difícil para Fernando Santos antecipar a dinâmica competitiva do jogo com a França com algum grau de fiabilidade, pois a previsibilidade da mesma é muito incerta.

É então sob a sua própria equipa que Portugal deve dirigir o foco das suas atenções e preocupações, até porque o último jogo não correu nada bem neste vector. Destas duas jornadas parece emergir um problema estrutural na equipa de Portugal: a qualidade dos jogadores portugueses sugeriria uma proposta de jogo mais elaborada do ponto de vista ofensivo, com maior consistência na posse de bola. Ao invés, jogadores como Bruno Fernandes, Bernardo Silva, João Felix, João Moutinho e Ruben Neves passam despercebidos numa equipa que constrói o seu valor competitivo na concentração, rigor e assertividade defensivas. E quando a proposta de jogo defensivo não corre bem, Portugal fica vazio de estratégia, identidade e recursos, pois o seu maior capital individual não está a ser valorizado, como se viu no jogo com a Alemanha.

Ao invés, destacam-se outros jogadores como, por exemplo, William Carvalho ou Danilo. O próprio Renato Sanches será sempre um jogador muito interessante no modelo Fernando Santos, pois é agressivo defensivamente e beneficia do facto de não existir um padrão ofensivo pré-definido na equipa de Portugal, contribuindo muito positivamente como um jogador selvagem que é quando em posse de bola.

Assim sendo, e conhecendo o nosso seleccionador, considero que o foco de Portugal vai estar muito mais em recuperar a intensidade e agressividade defensivas no meio-campo com Renato perto de Danilo, e aportar alguma qualidade à posse de bola na 1.ª fase de construção do ataque (que não teve no jogo com a Alemanha) com João Moutinho. Fernando Santos poderá ainda tentar assegurar que os nossos extremos desenvolvam comportamentos mais verticais e agressivos do ponto de vista defensivo e ofensivo. Com isto, poderá aproveitar para fazer descansar Bernardo Silva que tem estado em especial foco pela negativa no pós-Alemanha, protegendo-o assim para o que virá do play-off deste Euro-2020. Neste último ponto tenho mais dificuldade em identificar quem poderá acompanhar Diogo Jota, mas talvez a surpresa possa mesmo vir a ser Gonçalo Guedes.

E como Fernando Santos considera a defesa e Cristiano Ronaldo intocáveis, a equipa titular poderá bem ser: Rui Patricio, Nelson Semedo, Pepe, Ruben Dias, Raphael Guerreiro, Danilo, Renato, João Moutinho, Diogo Jota, Gonçalo Guedes e Cristiano Ronaldo. Boa sorte Portugal!

Luís Vilar
Pró-Reitor da Universidade Europeia