Para começar, as receitas que existem não são propriamente questões táticas, estratégicas ou técnicas. E se não há pessoas iguais, também não há treinadores iguais, e por isso não existem propriamente modelos dos treinadores para serem campeões. Ou nem todos os campeões na mesma modalidade fazem e pensam exatamente o mesmo ou sequer parecido em situações semelhantes.

Então o que poderá ser isto de receitas para se ser um treinador campeão, alguém que vence? Das várias entrevistas que fui e vou fazendo a treinadores de desportos coletivos que têm vencido as suas competições em séniores no grau máximo de exigência das suas modalidades, aquilo que pode ser considerado como o maior denominador comum em todos eles, e daí poder-se chamar de algo semelhante a 'receita', é a adaptabilidade.

A consciência e a humildade em perceberem que precisam mais dos atletas do que supostamente é aceite nas discussões entre 'treinadores' ou curiosos. E quando escrevo que precisam deles e na humildade em perceberem que o resultado final do que se trabalha nos treinos, dos processos individuais e de grupo só terá algum valor se os jogadores entenderem a riqueza das ideias dos treinadores. Sejam umas mais impostas, sejam outras mais partilhadas e comprometidas.

A adaptabilidade e flexibilidade das relações interpessoais são duas expressões constantemente referidas na capacidade e no exercício constante da liderança de um treinador numa equipa desportiva. Estranhamente, o treinador não aprende formalmente isso em lado nenhum, a não ser na vida. Na sua 'mochila' de vivências ao longo da vida e que o vai formando e reformando constantemente, em que os sucessos e fracassos desportivos o 'ensinam'.

É interessante que a maturidade competitiva e vivencial proporciona ao treinador maiores ferramentas e receitas que qualquer jogada 'xpto'. Um treinador precisa de entrar na mente dos jogadores, não para os manipular, mas para os comprometer. Precisa que a mensagem chegue. Precisa de estar constantemente atento para ver que 'feedback' os jogadores lhe proporcionam. Já se equiparou um treinador a muita coisa. Está na altura de entender que os melhores treinadores são também eles peritos na vertente da relação interpessoal com os atletas. E se assim não for, a intensidade esgota a capacidade das pessoas se darem sequer e, com isso, o jogador deixa de estar comprometido mas apenas torna-se num executante frio em termos emocionais.