Ser Treinador de Futebol está na moda. Querer Ser Treinador é, hoje, a ambição de muita gente. De gente jovem e de gente mais experiente. Há alguns anos era diferente. Ser Treinador de Futebol tinha outra conotação. E menor valorização. Mas o paradigma mudou. Hoje são muitos mais os que procuram triunfar nesta profissão.
A concorrência é feroz. Nem sempre justa, mas faz-nos evoluir coletivamente. Mas há treinadores e treinadores... E por cá, habituamo-nos a aprender com o melhor de todos. O melhor de todos os espécimes, o tal que mudou o paradigma do Ser Treinador. Em Portugal e no mundo. Hoje, passa pelo pior pesadelo da sua carreira desportiva. Apesar do momento, não deixa nunca de nos ensinar. E só não aprende com ele quem a isso não se dispõe. Foram 3 golos sofridos e apenas um marcado.
Novo desaire caseiro. Acentua-se a depressão coletiva. E seguiram-se 7 longos e intensos minutos de flash interview.
E aqui começa a nova lição. Por entre alguns adereços no discurso, fica clara uma estrutura e intencionalidade neste momento de comunicação. Para o exterior, mas visando o interior. Fica o que retirei, pessoalmente, desta lição:
1 – assumir a responsabilidade máxima pelo mau momento da equipa;
2 – desvanecer a importância das más performances dos últimos 2 jogos, enfatizando a importância das decisões dos árbitros para os maus resultados conseguidos pela equipa;
3 – colocar-se ao lado dos adeptos e dos jogadores, colocando o clube no papel de vítima das más decisões dos árbitros e da comissão disciplinar, que não permitem à equipa sair do mau momento;
4 – redefinir objetivos para a época, centrando a atenção em ficar no top 4 na liga;
5 - pedir que todos reflitam e assumam as suas responsabilidades individuais dentro do clube, que lutem em conjunto para inverter o mau momento, mudando o paradigma tradicional de atribuição de culpas a um só elemento, o Treinador;
6 – criar um foco atencional nos jogadores, abordando as sensações de libertação e as emoções positivas que os jogadores experienciarão quando estiverem a ganhar por 2 ou 3 golos;
7 – voltar a atenuar as responsabilidades do grupo face às más decisões dos árbitros, desvanecendo novamente a responsabilidade dos jogadores/treinador.
E se de repente, quando ninguém espera, tudo à nossa volta se desmoronasse? Como reagiria cada um de nós num contexto tão adverso como este?
Mourinho, mesmo sob pressão, não perde tempo com o que não interessa. Opta por se focar essencialmente naquilo que pode fazer. Desafia os jogadores. Redefine objetivos para a época. Ficar em quarto. Aparentemente acessível. Baixa, aparentemente, o nível de exigência aos seus jogadores.
Apesar do momento, eles são ainda os campeões. Sabem que são competentes o suficiente para o 4º lugar. Isto cria foco. Faz os jogadores e o staff direcionarem as suas energias para o que podem ainda construir. Para o que podem fazer e não para o que já não podem evitar. Mas sabem quantas equipas da Premier League com 8 pontos nas primeiras 8 jornadas acabaram no top 4? Nenhuma. Sim, o melhor que se viu foi um 5º lugar. Aparentemente acessíveis, mas simultaneamente desafiantes. É assim que os objetivos têm de ser! A lição parece estudada. Não parece surgir por acaso. Faz certamente parte do trabalho de antecipação de cenários do treinador. E que sabe que tem 14 dias para voltar a fazer a sua gente acreditar.
É por isso que, como disse no início, há treinadores e treinadores... Independentemente do que acontecer nos próximos tempos, continuaremos a dizer que há treinadores de Futebol, há muito bons treinadores de Futebol, e há José Mourinho!
É por isso que o melhor de todos os treinadores é uma referência, também hoje, na formação de treinadores. O seu percurso inspira, hoje, jovens, e menos jovens, treinadores pelo mundo fora. Em Janeiro próximo arranca uma pós-graduação internacional em Treino de Futebol de Alto Rendimento, organizada pela Faculdade de Motricidade Humana. O coordenador é José Mourinho. Será também professor. Ele e outros nomes de relevo. Um dos módulos, claro está, será Liderança e Comunicação.
Alguns países olham hoje para Portugal como um viveiro de treinadores. Alguns vêm mesmo aprender connosco. Aqui está um exemplo de empreendedorismo e de exportação de um produto bem nacional, a designada Escola Portuguesa de Treinadores de Futebol.
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