Três dias. Foi quanto durou o estado de graça do Sporting após a goleada ao PSV na Liga Europa. A imprensa apontava sinais de retoma na equipa de Jorge Silas, que vinha de três vitórias seguidas sem sofrer qualquer golo, mas tudo caiu por terra com a derrota (3-1) deste domingo em Barcelos, onde o FC Porto, de resto, também tropeçou logo na primeira jornada.

O Gil Vicente, que ainda não perdeu em casa nesta temporada, foi sempre muito mais organizado e também mais equilibrado emocionalmente, sabendo esperar pelos erros do adversário para fazer a diferença. Mas é gritante a falta de ideias e de agressividade do conjunto leonino, que assim falhou a aproximação ao terceiro lugar – o Famalicão havia perdido na véspera frente ao Portimonense - e vê agora o Benfica a 13 pontos.

Silas mudou apenas uma peça na equipa que na quinta-feira goleou o PSV (4-0) e carimbou o passaporte para os 16 avos de final da Liga Europa, com Jesé Rodríguez a entrar para o ataque, por troca com Bolasie. Na baliza manteve-se Luís Maximiano, que fez a estreia na I Liga aos 20 anos e 10 meses. No lado do Gil Vicente, destaque para o regresso de Sandro Lima, que se tinha lesionado no aquecimento do jogo da Taça de Portugal contra o SC Braga.

Desde cedo que se percebeu que o Sporting iria sentir muitas dificuldades para chegar à baliza de Denis. Os leões tinham mais bola, mas não conseguiam furar o modelo de jogo montado por Vítor Oliveira, que colocou Kraev mais recuado no terreno, de forma a manter a superioridade numérica do Gil Vicente no setor intermédio e, com isso, tapar qualquer caminho que Bruno Fernandes ou Vietto pudessem encontrar para assistir Luiz Phellype ou Jesé.

A estratégia ofensiva da equipa de Barcelos era simples: partir rapidamente para o contra-ataque, tentando explorar a velocidade nos corredores laterais. Foi assim que nasceu o primeiro golo do Gil Vicente, aos 18 minutos, que beneficiou também de um erro comprometedor da defesa leonina. Tiago Ilori foi à linha lateral perder uma bola para Sandro Lima, que trabalhou bem na área e serviu Kraev para o 1-0.

A equipa de Silas não acusou o golo e até melhorou, mas continuava sem soluções para romper a organização defensiva dos gilistas. O primeiro remate dos leões só apareceu já nos instantes finais da primeira parte, por intermédio de Wendel (43'), que atirou à malha lateral.

Após uma perdida de Jesé, acabou por ser Wendel a ter nos pés o empate, que não desperdiçou. Bruno Fernandes colocou a bola nas costas da defesa para o brasileiro que, solto de marcação, rematou cruzado para o 1-1 - Denis não ficou isento de responsabilidades -, num 'timing' perfeito para incentivar a equipa para o segundo tempo. Esperava-se, por isso, um Sporting mais acutilante em termos ofensivos, mas a verdade é que o conjunto de Silas voltou do intervalo ainda pior.

O segundo golo do Gil Vicente surge numa grande penalidade a castigar a imprudência de Marcos Acuña, convertida com sucesso por Sandro Lima, e a partir daí tornou-se claro que o Sporting dificilmente faria algo mais, a não ser passes falhados, cruzamentos sem nexo e substituições (Bolasie, Rafael Camacho e, mais tarde, Eduardo) que pouco acrescentaram ao jogo leonino.

Para piorar, Hugo Miguel deu ordem de expulsão a Doumbia depois de recorrer ao VAR, mas voltou atrás quando alertado para o facto de o videoárbitro não poder interferir em lances de cartão amarelo. A este (longo) período de indecisão seguiu-se um momento de inspiração de Naidji, ao nono minuto para lá dos 90'. O avançado argelino, que entrou a meio da segunda parte, arrancou em contra-ataque ainda no seu meio-campo, correu até à área, tirou dois adversários da frente e atirou para o 3-1 final. E em apenas três dias (e três golos) o Sporting foi do céu ao inferno.

O momento

1-0 do Gil Vicente: Um erro colossal de Tiago Ilori que mudou o rumo do jogo. O central português dobrou Sandro Lima no corredor direito, para apoiar Rosier, mas acabou por perder a bola para o avançado gilista, que depois ofereceu o golo a Kraev.

O melhor

Sandro Lima: Mérito na forma como ganhou a bola a Ilori e construiu a jogada do primeiro golo do Gil Vicente. Apontou ainda de forma exemplar o penálti que resultou no 2-1, enganando Luís Maximiano. São já oito golos na presente temporada, seis no campeonato.

O pior

Tiago Ilori: Fica ligado a esta derrota pelo erro que permitiu o 1-0 por Kraev. Nota negativa, também, para Silas, que acabou por receber uma lição tática do veterano Vítor Oliveira.

Reações

Silas critica jogadores e atira: "Não sei por que lugar vamos lutar, mas o 1.º começa a ficar difícil"

Vítor Oliveira 'mete o dedo na ferida': "Que jogadores de top tem o Sporting?"

Emanuel Ferro: "Segundo golo do Gil Vicente acabou por abalar-nos"

Bruno Fernandes: "Faltou personalidade e atitude. Não estivemos no jogo"