Rui Pinto assumiu hoje no julgamento do processo Football Leaks a responsabilidade pela obtenção da informação sobre o caso Luanda Leaks e rejeitou ser o autor do blogue ‘Mercado de Benfica’.
“O Luanda Leaks sou eu”, resumiu esta tarde o criador da plataforma eletrónica e principal arguido do processo Football Leaks, que explicou que o interesse por Angola já vinha de trás e materializou-se com o acesso ao sistema informático da sociedade de advogados PLMJ, nomeadamente, através da caixa de correio eletrónico da advogada Inês Pinto da Costa, que tinha a seu cargo as questões referentes à empresária angolana Isabel dos Santos.
De acordo com Rui Pinto, a divulgação dos Malta Files em maio de 2017 expôs um conjunto de informações sobre sociedades pertencentes a Isabel dos Santos e que estas estariam associadas à advogada da PLMJ. “Nessa altura, já tinha um grande interesse nas questões relativas a Angola. Seguia as denúncias de Ana Gomes e do jornalista Rafael Marques”, recordou o arguido na sessão de hoje no Juízo Central Criminal de Lisboa.
“[Esse material] foi levado a jornalistas logo naquela fase, quando obtive os primeiros documentos relativos a Isabel dos Santos em 2017. A preocupação foi fazer a análise dessa informação”, observou Rui Pinto, garantindo que “não tinha interesse” pessoal na caixa de correio eletrónica do advogado João Medeiros.
O facto de João Medeiros ser um dos três advogados do Benfica e a exposição da sua caixa de correio eletrónica no blogue ‘Mercado de Benfica’ gerou várias perguntas do coletivo de juízes ao criador do Football Leaks, mas foi então que Rui Pinto fez questão de se distanciar desse blogue e de defender que a divulgação dos emails do advogado “foi uma canalhice”, apontando a responsabilidade dessa situação a outro elemento.
“Não sou eu o criador do ‘Mercado de Benfica’. Era alguém que eu conhecia e ligado ao Football Leaks. O interesse na caixa de correio de João Medeiros não era meu”, referiu, acrescentando: “Eu não sou o autor do ‘Mercado de Benfica’ e tive várias discussões com o autor. A partir do momento que ele conseguiu essa informação, eu queria que ela fosse para o Football Leaks ou para o consórcio de jornalistas e ele, por estupidez ou teimosia, criou o ‘Mercado de Benfica’”.
Rui Pinto esclareceu que o autor desse blogue - onde foram expostos muitos documentos relativos ao Benfica – conseguiu “um mapa do tesouro” no final de 2016 junto de um colaborador externo do clube da Luz e que isso funcionou como um “guia sobre como aceder e ao que aceder em concreto” no Benfica.
“O ‘Mercado de Benfica’ não era um projeto conjunto. Sempre disse que isso não tinha jeito, porque o Football Leaks não era isso. Tentei convencê-lo, mas ele não quis. Tivemos muitas discussões. Olhando para a divulgação da caixa de correio de João Medeiros, isso foi uma canalhice. Lamento profundamente que aquilo tenha acontecido, mas não vou pedir desculpa por uma coisa que eu não fiz”, assinalou.
Ainda a propósito do autor do ‘Mercado de Benfica’, que nunca nomeou na sala de audiência, Rui Pinto revelou que esse indivíduo foi a primeira pessoa a aceder também à PLMJ, uma vez que nessa altura estava em Praga para um festival de música eletrónica.
“A ideia [para aceder à PLMJ] através de uma plataforma de download foi minha e acabou por resultar. Tivemos uma reunião onde eu falei da minha ideia, mas não fui eu que tratei do envio. […] Disse-lhes ‘eu vou a Praga, tratam disso ou esperam que volte?’. Eles trataram disso e o autor do ‘Mercado de Benfica’ tomou as rédeas dessa situação”, notou, além de descrever a divulgação online de caixas de correio eletrónicas na íntegra como algo “lamentável”.
Rui Pinto, de 34 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto de 2020, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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