Em declarações à Lusa, José Manuel Constantino explicou que a obra congrega abordagens para perceber se a atividade “deve ou não ser considerada no âmbito do sistema desportivo”, abordando ainda a evolução no contexto internacional e os riscos que comporta.

O objetivo do mesmo não é “chegar a conclusões”, até porque não houve uma, mas uma permissão para “refletir, amadurecer e debater o tema, numa perspetiva aberta”, com cerca de dezena e meia de autores, com perspetivas de abordagem diferentes sobre o “estado de arte” dos eSports.

“Há pessoas que acham que deve ser considerada uma prática desportiva, outras entendem que deve estar fora do sistema desportivo, outras pensam que a atividade deve ser regulada, outras entendem que é uma atividade de natureza comercial e tem de ter uma relação distinta do sistema desportivo portanto é uma perspetiva aberta, que não nos permite afunilar o tema e dizer que a conclusão deve ser num sentido ou outro”, explicou.

José Manuel Constantino disse ainda que o Comité Olímpico Internacional “tem tido algumas reservas relativamente à pressão que tem existido” para que os eSports sejam considerados uma atividade desportiva, integrada no programa dos Jogos.

O presidente referiu que o COP tem olhado para o fenómeno dos jogos eletrónicos com “prudência e cautela”, estudando o assunto e ouvindo diferentes opiniões, admitindo que há hoje “uma atividade de natureza competitiva”, mas salientou que há muitas dessas atividades que não se enquadram no sistema de práticas desportivas.

“Há jogos em que o tema ou mote é o desporto em si mesmo, mas há outros em que não o é. Portanto, temos alguma prudência e cuidado na abordagem destes assuntos e estamos numa fase de reflexão e maturação, embora não ignoremos que há muitas federações desportivas que regulam esta atividade e a incluem no âmbito das suas atividades normais”, afirmou.

O presidente não quis associar esta atividade à pandemia de COVID-19, porque não se sabem ainda "as consequências que o surto epidémico vai ter do ponto de vista de alteração de comportamentos" e o qual o "impacto global".

Sobre uma possível integração dos eSports no COP ou a realização de iniciativas, o responsável foi categórico ao dizer que isso “está fora de questão” e que o organismo apenas tem olhado para o caso com intuito de perceber se as características “são integráveis ou assimiláveis naquilo que é a atividade desportiva”.

“Olhamos com prudência, sem nenhum estigma, no sentido de perceber a tendência que o fenómeno irá assumir e em alguns países asiáticos há escalas de elevado número de participantes. Não ignoramos a natureza do fenómeno e a importância social que tem, nem a componente de natureza comercial das entidades que produzem os jogos. Estamos atentos e a estudar. Este livro é um contributo a essa reflexão”, apontou.

Questionado sobre um eventual conflito com os valores olímpicos – que premeiam a excelência física –, José Manuel Constantino disse que os eSports são “uma coisa completamente à margem” e que faltam respostas para perceber como uma narrativa digital se integra numa narrativa de natureza distinta.

“Nem sabemos quais são as consequências do ponto de vista da saúde que têm os comportamentos aditivos e o uso compulsivo que este tipo de dispositivos acarreta nas crianças e jovens. A narrativa desportiva é dirigida aos aspetos formativos e educativos no desporto, designadamente junto das crianças e dos jovens”, concluiu.