O campeonato de futebol do Qatar tem como “grande desafio” ser mais competitivo, frisou hoje o diretor desportivo da competição, o português Antero Henrique, notando o contributo das suas passagens por FC Porto e Paris Saint-Germain.

“O Qatar investe largamente em desporto e o futebol surge como a unidade mais visível. Quando o país investe em pessoas, em processos e em infraestruturas, isso significa que quer ser um ‘player’ importante nesta plataforma mundial e que quer estar não como um ponto de chegada, mas como um ponto de partida”, estabeleceu o dirigente, de 55 anos.

Orador único da conferência denominada “Como gerir o crescimento sustentado de uma Liga de futebol? O caso da Qatar Stars League”, inserida na cimeira Thinking Football, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, o dirigente partilhou as suas experiências sobre um cargo pouco usual, que assumiu em março de 2022, ano no qual o Qatar organizou o Mundial.

“É um desafio diferente. A Liga sentiu a necessidade de uniformizar processos e de criar um desenvolvimento orgânico para que todas as componentes do processo estivessem alinhadas. Necessitava de um perfil que tivesse conhecimento suficiente para coordenar essas funções e desse condições para que o futebol exista na melhor condição”, notou.

A prova, que foi arrebatada pelo Al-Duhail em 2022/23, reúne 12 clubes com modelos de financiamento públicos, sobre os quais o regulador exerce uma “forte presença” quanto à aprovação de entrada de ativos e à definição dos processos, tendo até “direito de veto”.

“Eu tinha experiência acumulada interessante, até porque tinha estado num clube de um mercado teoricamente vendedor [FC Porto] e num clube teoricamente comprador [PSG]. Esse conjunto de experiências contribuiu para ser selecionado. O desafio é de gestão de uma Liga profissional, que tem dois escalões. Há necessidade de transformar a II Liga no suporte da I Divisão enquanto espaço de recrutamento”, contextualizou Antero Henrique.

Apesar de o Qatar ser um país que “investe largamente em desporto” e se assume como “palco de eventos de diversas modalidades”, a Liga de futebol vigora como um “ponto de partida” e tenta fazer com que “o valor de mercado dos atletas que chegam seja realista”.

“Não conheço a estratégia da Arábia Saudita, onde sabemos que já houve investimentos volumosos em quatro ou cinco equipas. O nosso objetivo é ter uma Liga equilibrada, algo que, segundo o que percebi até agora, não é, para já, grande preocupação dos sauditas. O nosso projeto é completamente distinto e a ideia não é, de forma alguma, mudá-la em função de maiores investimentos. O critério principal [de recrutamento] é a competência. Queremos ter estrelas, mas que associem à sua marca a capacidade de render”, vincou.

A chegada de reforços estrangeiros vem “ajudar a desenvolver o talento local” do Qatar, cuja seleção nacional é a atual campeã asiática, notando Antero Henrique uma presença “completamente estratégica” de treinadores com “contextos distintos”, incluindo os lusos Leonardo Jardim (Al-Rayyan), Pedro Martins (Al-Gharafa) ou Bruno Pinheiro (Al-Sadd).

“Há elementos inegociáveis. O treinador é o centro do processo e, a partir daqui, tudo se desenvolve em coordenação. Os níveis de audiência estão a subir e existe uma grande paixão pelo futebol, mas ainda não há uma cultura de experiência de estádio”, concluiu.

Organizada pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), a segunda edição da Thinking Football começou hoje e prolonga-se até sábado, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, reunindo oradores nacionais e internacionais para debates sobre a modalidade.