Ainda muita gente se sentava nas bancadas e o Liverpool já estava na frente do marcador.

O jogo ainda não tinha dado ocasiões de golo, mas os reds aproveitaram logo a primeira que tiveram. Na marcação de um livre, quando todos esperavam um cruzamento tenso ou um remate forte de Gerrard, o médio inglês decidiu cruzar rasteiro e Agger, bem no centro da área encarnada, usou o calcanhar para bater Júlio César, que no meio de tanta gente possivelmente nem viu a bola partir.

Era um contratempo inesperado para a equipa de Jorge Jesus, mas o Benfica não baixou os braços e poucos minutos depois estava já “em cima” do Liverpool.

Nestes minutos, pela negativa, destacou-se Óscar Cardozo. Primeiro, o paraguaio atirou por cima uma bola cruzada por Di Maria em que só tinha de encostar e, aos 17’, não conseguiu melhor do que um cabeceamento frouxo depois de nova assistência de Angelito.

Aos 20 minutos de jogo, o Benfica dominava por completo o jogo na Luz, mas faltavam os golos, com Aimar e Ramires a entrarem também na lista dos perdulários.

Di Maria desistiu de tanta assistência e decidiu ele próprio tentar a sorte com um remate espectacular que certamente daria o golo da noite na Luz.

O jogo decorria a um ritmo alto e um episódio entre Luisão e Babel fez por momentos esquecer que era futebol que se jogava na Luz.

O central entrou por trás sobre Torres e Babel põe-lhe a mão na cara por duas vezes. Resultado: o capitão encarnado viu amarelo e Babel foi tomar banho mais cedo por ordem do árbitro Jonas Eriksson.

Reatou-se o jogo e a Luz voltou a gelar com um golo de “El Niño”, prontamente anulado pelo fiscal de linha por posição irregular do avançado espanhol.

Se se pedia mais acerto à entrada para o segundo tempo, Cardozo logo demonstrou que não tinha afinado a mira durante o intervalo. Depois de atirar para uma defesa fácil de Reina, o paraguaio voltou a falhar escandalosamente na pequena área, desviando um canto de Di Maria para a linha de fundo.

O Benfica continuava por cima no jogo e aos 58’ Cardozo decidiu que era tempo de deixar de falhar. Na cobrança de um livre à entrada da área, o “Tacuara” rematou fortíssimo e acertou no poste. Na sequência do lance Aimar sofre falta de Insúa e pénalti na Luz.

Cardozo, que acabara de acertar pela primeira vez no jogo (embora no poste), quis cobrar o pénalti (que já tem falhado) e desta vez acertou mesmo: fuzilou Reina com um remate colocado junto ao poste esquerdo do guarda-redes espanhol.

Como seria de esperar, o Benfica galvanizou-se ainda mais e carregou ainda mais no acelerador. Contudo, o Liverpool, pressentindo dificuldades em segurar tamanha avalanche dos encarnados, decidiu que pela primeira vez no jogo tinha de passar a pautar o ritmo.

E com Gerrard na batuta, o jogo entrou numa toada mais calma a que Carlos Martins foi dando uma achega nem sempre preciosa. O 17 do Benfica falhou muitos passes e numa altura em que se pedia posse de bola, Jorge Jesus não teve alternativa senão tirá-lo do jogo, fazendo entrar Ruben Amorim.

Balanceado no ataque o Benfica podia ter deitado tudo a perder, não fosse por essa altura Torres já se encontrar completamente de rastos.

O espanhol construiu a jogada, David Luiz e Luisão não se entenderam e o 9 do Liverpool podia ter tornado a eliminatória muito complicada para os encarnados. Cansado por tamanha correria, o espanhol rematou ao lado só com Júlio César pela frente.

Na outra baliza continuava o desacerto atacante do Benfica e Carragher decidiu dar uma “mãozinha” ao Benfica. Literalmente! O central meteu a mão à bola e numa noite de pénaltis, Cardozo mostrou-se mais uma vez inspirado: Reina para um lado, bola para o outro e o Benfica passava para frente do marcador.  

O resultado abre boas perspectivas aos encarnados para o jogo da segunda mão, pese o facto de ter sofrido um golo em casa. O Liverpool, por sua vez, terá de tomar a iniciativa e mostrar mais do que trouxe hoje à Luz, embora numa noite mais inspirada ao nível da concretização, a equipa de Jesus possa perfeitamente reviver a noite gloriosa de Miccoli e Simão na época de 2005/2006.

Nota ainda para a triste prestação de uma das claques do Benfica que por duas vezes interrompeu o jogo na Luz com o lançamento de dois petardos para as imediações da baliza de Reina.