Liderança, inteligência emocional, mentorização, equipas multidisciplinares e comunicação são características essenciais do treinador de elite de futebol, como descreve o advogado Jerry Silva no livro “Treinador de Elite: Quem és?”.
“Deverá ser um homem que, além de dominar valências de natureza tática, técnica e física, tenha uma perspetiva de evolução e de abrangência muito grande nesses cinco vetores e seja excelente a gerir recursos humanos”, vincou à agência Lusa o autor, à margem da sessão de apresentação da obra, que decorreu hoje, num hotel no Porto.
O livro partiu da dissertação do advogado acerca da temática “Treinador de Elite: Quem és?”, defendida em março de 2021, no âmbito do mestrado em Ciência da Educação Física e Desporto, com especialização em Treino Desportivo, na Universidade da Maia.
“Os cinco elementos estão absolutamente interligados e são indissociáveis. Constatámos na investigação que, ao nível da liderança, composição das equipas multidisciplinares e comunicação, há claramente uma evolução. Eu diria que estão no mesmo patamar. Já a inteligência emocional e mentorização estão com uma décalage considerável”, notou.
Entre outros testemunhos, a obra reúne contributos de Fernando Santos, selecionador nacional de futebol, António Oliveira, ex-futebolista e treinador, e José Neto, professor orientador da dissertação de Jerry Silva, que também é mestre em Direito do Desporto pela Universidade Lusíada e trabalha como juiz-árbitro do Tribunal Arbitral do Desporto.
“Houve alguns resultados que acabaram por ser bastante surpreendentes, sobretudo em relação à mentorização, que é absolutamente normal no modelo americano e vai sendo uma raridade no modelo europeu. Os inquiridos entenderam que o mentor é essencial na composição destes elementos que se configuram para um treinador de elite, mas, na decomposição da equipa técnica, o mentor aparece como um elemento menor”, ilustrou.
Com prefácio de José Neto e posfácio de Manuel Sérgio, “Treinador de Elite: Quem és?” baseou-se em questionários dirigidos a treinadores, jogadores, jornalistas, diretores de comunicação e professores universitários da área do desporto no ativo ou aposentados.
“Treinadores de elite nacionais? No presente, colocaria José Mourinho e André Vilas-Boas. No passado, ainda sem a vertente da mentorização, José Maria Pedroto, Artur Jorge e, por incrível ou não que pareça do resultado da investigação, Béla Guttmann, que estava, e diria que ainda hoje está, claramente muito à frente do tempo”, enumerou.
Jerry Silva apresentou esta tarde a sua nova obra ao lado de José Neto, Aníbal Styliano, docente e diretor pedagógico de cursos de formação de treinadores, Henrique Calisto, técnico e ex-jogador, e Jorge Bento, professor, numa sessão dirigida por Rui Cerqueira, assessor de comunicação, e com várias personalidades do futebol português na plateia.
“Os desafios futuros para os treinadores colocam-se na vertente normal, de análise e de apreciação do jogo, mas, sobretudo, numa vertente de humanização e socialização, além de ter a disponibilidade cultural para admitir a mentorização. Como diria José Saramago, para conhecer a ilha, é preciso sair da ilha”, finalizou um dos peritos oficiais da Comissão de Arbitragem para a transferência de jogadores da Federação Portuguesa de Futebol.
Jerry Silva também é autor dos livros “Futebol: Desafios e Rumos para Vencer” (2016) e “O Futebol e a Monitorização do Sono - O jogador e a proteção de dados pessoais” (2019), bem como da publicação digital “Tendências Evolutivas do Jogo” (2016).
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