Gedson Fernandes prestou depoimento esta quinta-feira, 6.ª sessão do julgamento da 'Operação Malapata', no Tribunal de São João Novo, no Porto.

Em videoconferência, o médio de 24 anos do Besiktas detalhou a sua relação com o empresário César Boaventura, um dos arguidos no processo. De acordo com o jornal Record, Gedson explicou que teve várias abordagens para ser agenciado por César Boaventura, muitas delas quando subiu à equipa principal do Benfica, no início da carreira a nível profissional.

Abordagens essas recusadas já que o antigo internacional sub-21 português explicou que já era agenciado por Pini Zahavi. Gedson viria mais tarde a entrar na carteira da Gestifute, empresa de Jorge Mendes.

Questionado sobre um documento onde o próprio Gedson terá cedido os seus direitos de imagem e agenciamento, o jogador do Besiktas afirmou "nunca" ter "assinado algo" para César Boaventura e garantiu que as assinaturas eram falsificadas, de acordo com o Record.

Gedson Fernandes contou ainda que quando foi emprestado ao Tottenham, em 2019/20, César Boaventura o abordou com uma suposta transferência para o West Ham, rival dos spurs, masque recusou tal abordagem por não ter "nenhum interesse" na mudança, uma vez que já tinha dado a sua palavra ao Tottenham.

A 28 de março de 2023, o Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto decidiu levar a julgamento César Boaventura no âmbito do processo ‘Operação Malapata’ nos “exatos termos da acusação” do Ministério Público (MP).

No processo, que envolve transferências de jogadores e contas bancárias por onde circulavam, segundo o MP, “milhares de euros”, o arguido vai responder por 10 crimes: cinco de burla qualificada, três de falsificação de documentos, um de fraude fiscal qualificada e outro de branqueamento de capitais.

A acusação do MP foi deduzida em dezembro de 2022, tendo o arguido requerido a abertura de instrução, fase facultativa que visa decidir por um juiz de instrução criminal se o processo segue e em que moldes para julgamento.

O processo tem outros dois arguidos, empresários ligados à metalurgia e próximos de César Boaventura, que vão ser julgados por branqueamento de capitais. De acordo com a acusação, uma das formas usadas pelo arguido para se credibilizar junto dos seus alvos passava por afirmar ter uma “ligação privilegiada ao então presidente do Benfica Luís Filipe Vieira, de quem afirmava ser amigo”.

Em dezembro de 2021, a Polícia Judiciária (PJ) dava conta da realização de 28 buscas domiciliárias e não domiciliárias nos concelhos de Barcelos, Braga, Esposende, Trofa, Vila Nova de Famalicão, Funchal, Benavente e Lisboa.

No auto de buscas do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto, a que a Lusa teve, na ocasião, acesso, estavam descritas várias empresas (incluindo uma têxtil e outra de construções metalomecânicas), quase todas localizadas na região norte do país, diversos contabilistas, Benfica, Sporting e respetivas SAD - Sociedade Anónima Desportiva.

No comunicado, a PJ explicava que, até àquele momento, tinham sido identificados movimentos financeiros, em diversas plataformas, num montante superior a 70 milhões de euros.

“Através do exercício de atividade comercial fictícia de sociedades geridas pelos suspeitos, assim como de correspondentes contas bancárias tituladas por terceiros (pessoas individuais e coletivas), em território nacional e no estrangeiro, aqueles lograram criar um intrincado esquema de faturação/movimentação financeira que ofereciam tanto como veículo de branqueamento para terceiros, prestando assim esse serviço ilícito pelo qual seriam remunerados, como para ocultação dos proveitos gerados da própria atividade legítima dos próprios e de terceiros, nos setores indicados”, explicava esta polícia de investigação criminal.

Segundo a PJ, a vantagem patrimonial estimada em sede fiscal, associada ao principal visado (César Boaventura), atingia, naquele momento, o montante de 1,5 milhões de euros, “apenas com base em elementos já confirmados”.

A ‘Operação Malapata’ foi realizada no âmbito de um inquérito titulado pelo MP no DIAP do Porto, com a participação da Autoridade Tributária e Aduaneira - Direção de Finanças do Porto.

O advogado Carlos Melo Alves disse também à Lusa que “muito provavelmente” vai requerer a abertura de instrução de um outro processo hoje conhecido, em que César Boaventura é acusado de três crimes de corrupção ativa e de um crime de corrupção ativa na forma tentada.

Uma nota do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) revela que, “segundo a acusação, o arguido abordou quatro jogadores de futebol para, no âmbito de dois jogos referentes à época 2015/2016 da Primeira Liga de Futebol Profissional, a troco de contrapartidas financeiras ou contratuais, terem um desempenho desportivo contrário aos interesses das próprias equipas (Marítimo e Rio Ave), visando beneficiar a equipa adversária (Sport Lisboa e Benfica)”.

O julgamento continuará na próxima quinta-feira, 30 de novembro, onde César Boaventura irá falar ao tribunal pela primeira vez.