Testemunhas arroladas por Fernando Saúl acusaram apoiantes do atual presidente do FC Porto, André Villas-Boas, de terem insultado o antigo presidente, na Assembleia Geral (AG) do clube em novembro de 2023, no âmbito da Operação Pretoriano.

Na parte da tarde da 15.ª sessão do julgamento da Operação Pretoriano, a decorrer no Tribunal de São João Novo, no Porto, começou por depor Carlos Moreira, associado do FC Porto presente na reunião magna e amigo de Fernando Saul, que responsabilizou alguns associados que estavam contra a direção então em funções pelo ambiente hostil que se gerou na reunião magna.

"Vi insultos a Pinto da Costa, desde 'mamão' a 'bandido'. Diziam-lhe que estava a viver à custa do clube e que iria ser 'corrido'", começou por relatar o depoente alistado pelo antigo oficial de ligação aos adeptos do emblema 'azul e branco', acrescentando depois que Lourenço Pinto, então presidente da Mesa da AG, foi também bastante visado.

Ainda assim, garante não ter visto mais do que meras altercações verbais no Pavilhão Dragão Arena até ao discurso de Henrique Ramos, que incidiu sobretudo sobre as casas do clube e terá deixado o evento "inflamado".

Na inquirição, a testemunha foi questionada, pela defesa do FC Porto, assistente no processo, sobre as mensagens que o depoente terá trocado com arguidos no grupo de Whatsapp "Super Dragões 1986", onde a acusação do Ministério Público alega ter sido feito o planeamento dos desacatos na reunião portista.

Carlos Moreira afirmou não se lembrar sobre nenhuma das conversas com as quais foi confrontado.

Por sua vez, José Maia, sócio dos 'dragões' que, além de ter ido à AG com Fernando Saul, tem também afinidade com Fernando e Sandra Madureira, garantiu que houve ofensas ao malogrado dirigente portista - "o rei está morto", exemplificou -, que se redobraram quando este discursava.

Porém, apesar de reconhecer os conflitos, garante que, do seu ponto de vista pessoal, não havia qualquer tipo de animosidade, relatando que se cruzou e conviveu com um grupo conhecido de adeptos ligados à então putativa candidatura de André Villas-Boas à presidência do clube.

A esse grupo pertencia o ator Pedro Teixeira, que relatou "medo e vergonha" numa notícia que a advogada dos 'dragões', Sofia Branco, pediu para ser junta ao processo, para "consideração da credibilidade da testemunha".

Bruno Dias, associado do FC Porto arrolado por Fernando Saul, com quem também terá ido ao ato, teve um depoimento em consonância com os dois anteriores, explicando que houve insultos entre as duas 'fações'.

"Não sei se havia uma intenção de provocar, mas havia um espírito de mudança", constatou.

A defesa do FC Porto abordou o depoente sobre uma mensagem que terá mandado no grupo de Whatsapp da claque Super Dragões, no dia seguinte à AG ("Por mim, para a semana era igual"), ao que este disse também não se lembrar.

Encerradas as diligências por hoje, o julgamento tem retoma marcada para quarta-feira, dia 04 de junho, a partir das 09:30, com as audições das testemunhas listadas pelo arguido Hugo Carneiro, conhecido como 'Polaco'.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.