O diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, assegurou hoje que os recursos humanos e tecnológicos serão reforçados ainda em 2019 para lidar com práticas criminosas que colocam em causa a integridade das provas desportivas.

Em declarações prestadas no âmbito de uma ação de formação de agentes, com a presença de elementos da Interpol e do Comité Olímpico Internacional (COI), na sede da PJ, em Lisboa, o responsável salientou os “aspetos transnacionais” de uma “criminalidade organizada” que se estende por diversas áreas, como branqueamento de capitais, aquisição fraudulenta de sociedades desportivas, corrupção desportiva ou manipulação de resultados.

“Esses reforços estão a caminho. No último trimestre do ano vamos contar garantidamente com 120 elementos que estão neste momento em estágio, na escola da PJ estão mais 40 em formação e estamos com um concurso para 100 inspetores que está em curso. De facto, procuramos capacitar todas as áreas e esta em especial, que é uma área adstrita à Estrutura Nacional da Corrupção, será alvo de reforço”, frisou.

Sublinhando o “foco muito especial na criminalidade económico-financeira”, Luís Neves acrescentou ainda que a componente digital se revela “vital” para o êxito da instituição neste combate, nomeadamente através da Unidade de Crime Tecnológico da PJ. Por outro lado, reconheceu a importância da ação de formação que decorre entre hoje e quarta-feira para se ultrapassarem algumas limitações.

“Além dos meios humanos, estamos a procurar debelar algumas dificuldades que temos tido e que têm que ver com o conhecimento. Nos últimos anos, as áreas de investigação criminal estão muito segmentadas e requerem conhecimentos muito específicos, há muita tecnicidade do ponto de vista jurídico e dos meios de obtenção de prova”.

Já o secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, vincou na abertura da sessão de formação que o fenómeno de manipulação das competições “sempre existiu no desporto” e que é preciso perceber que a mediatização de casos em torno deste tipo de práticas deve-se a “um melhor trabalho na investigação” e não a um aumento desta criminalidade.

Apesar de admitir que esta é uma “ameaça mais presente” e um “polo de atração da criminalidade”, o governante garantiu que o Executivo está atento a esta situação.

“Não é por falta de investimento do Governo nesta matéria que alguma coisa tem deixado de ser feita, muito pelo contrário. As autoridades competentes e o governo estão a trabalhar para garantir a verdade e a integridade desportivas”, observou o secretário de Estado.

Por sua vez, José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, enalteceu a abertura da PJ para a defesa da integridade das competições desportivas no país e alertou para a urgência do reforço do conhecimento especializado das autoridades.

“A sociedade digital e transnacional deu outras características a este fenómeno que exigem competências técnicas mais apuradas”, sentenciou.