A Superliga europeia de futebol poderá vir a mudar o panorama da modalidade e mexer com as ligas nacionais e a distribuição da riqueza gerada pelo futebol. A UEFA poderá ser um dos grandes derrotados, já que perderia o papel de organizador e distribuidor da riqueza do futebol europeu.

A questão financeira está na base da criação desta prova de elite, que reúne alguns dos emblemas mais ricos da Europa. Os clubes fundadores estão contra o que consideram ser o monopólio comercial da UEFA com os seus ativos. Sempre que um clube participa nas provas da UEFA, é obrigado a prescindir dos seus patrocinadores nos seus estádios, nos placares vídeo, outdoors e painéis, algo que os fundadores da Superliga não aceitam, de acordo com o jornal 'El País'. Os mesmos querem poder explorar os seus direitos nas suas plataformas digitais e aplicações para telemóveis.

De acordo com o 'El País', a gestão desportiva desta nova competição será feita por uma empresa espanhola, ficando uma empresa holandesa responsável pela venda dos direitos audiovisuais.

Numa fase inicial, os clubes fundadores irão receber 3.525 milhões de euros para investir em infraestruturas e também para fazer frente aos efeitos da pandemia de COVID-19. Um dos financiadores deste montante é o banco JP Morgan, dos EUA.

Os 3.525 milhões de euros serão distribuídos da seguinte forma: 350 ME para seis dos clubes fundadores; 225 ME para quatro; 112,5 ME para dois e 100 ME para três clubes, repartidos de acordo com um sistema interno que não tem nada a ver com o mérito desportivo ou classificação final da Superliga.

Além deste montante, os fundadores da nova prova de elite estimam receber 4.000 milhões de euros dos direitos televisivos por época. Deste montante, 264 ME será devolvido aos financiadores da prova durante 23 anos. Ou seja, só numa época, a Superliga Europeia iria gerar 7.525 milhões de euros.

Se compararmos com o que paga a UEFA, o máximo que um vencedor da Liga dos Campeões pode receber são 100 milhões de euros, isso se vencer todos os jogos da prova.

São números preocupantes que deixariam a UEFA debilitada, mas também as próprias ligas nacionais. No caso de La Liga Espanhola, o 'El País' estima perdas de 1.800 milhões de euros que deixariam de entrar  nos clubes, em direitos audiovisuais, patrocínios, vendas de bilhetes e lugares anuais.

No domingo, 12 dos principais clubes de Espanha, Inglaterra e Itália anunciaram a criação de uma competição de elite, concorrente da Liga dos Campeões, em oposição à UEFA, às federações nacionais e a vários outros emblemas.

AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, FC Barcelona, Inter Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Real Madrid e Tottenham “uniram-se na qualidade de clubes fundadores” da Superliga, indica o comunicado, acrescentando que a competição vai iniciar-se “o mais brevemente possível”.

Os promotores da Superliga adiantam que a prova será disputada por 20 clubes, pois, aos 15 fundadores – apesar de terem sido anunciados apenas 12 -, juntar-se-ão mais cinco clubes, qualificados anualmente, com base no desempenho da época anterior.

A época arrancará em agosto, com dois grupos de 10 equipas e os jogos, em casa e fora, serão realizados a meio da semana, mas todos os clubes participantes continuarão a disputar as respetivas ligas nacionais.

Os três primeiros classificados de cada grupo e os vencedores de um ‘play-off’ entre o quarto e o quinto posicionados disputarão os quartos de final, em duas mãos, seguindo-se a fase a eliminar até ao jogo decisivo, em terreno neutro.

O comunicado dos 12 clubes surgiu no mesmo dia em que a UEFA reafirmou que excluirá os clubes que integrem uma eventual Superliga europeia de futebol, e que tomará “todas as medidas necessárias, a nível judicial e desportivo” para inviabilizar a criação de um “projeto cínico”.

Na luta contra a pretensão de alguns dos mais poderosos clubes da Europa, a UEFA disse contar com o apoio das federações de Inglaterra, Espanha e Itália, bem como das ligas de futebol destes três países.

Em janeiro, a FIFA já tinha avisado, num comunicado conjunto com as confederações do futebol mundial, que impediria de participar nas suas competições qualquer clube ou jogador que integrasse uma eventual competição de elite, disputada por convite por alguns dos maiores clubes europeus.