Aurélio Pereira, o ‘senhor formação’, que descobriu talentos para o Sporting como Cristiano Ronaldo, Luís Figo, Paulo Futre ou Ricardo Quaresma, tem o seu trabalho de décadas imortalizado em livro.
‘Ver para crer – Memórias de descoberta e formação de talento’, da autoria do jornalista Rui Miguel Tovar e editado pela Contraponto, estará hoje nas livrarias e reúne, na primeira pessoa, “muitas histórias interessantes” de 50 anos da carreira de um homem que “deu muito ao futebol português”, pelo que o livro surge como “o tributo que a modalidade lhe deve”.
“Por exemplo, o Figo esteve para ser emprestado ao Casa Pia. Foi o Aurélio que o impediu. O que seria dele se fosse cedido? Se calhar perdia o fulgor, a paciência, seguiria outro caminho”, conta à Lusa Rui Miguel Tovar, que dá conta do “testemunho de vários futebolistas” nesta obra.
Sobre Quaresma, conta a história de quando o Sporting não lhe pagou o passe e, não tendo dinheiro para assim se deslocar para os treinos, “foi Aurélio Pereira a pagá-lo, do seu bolso”.
“Se não ligasse nenhuma, provavelmente o Quaresma não teria marcado nenhum dos golos decisivos por Portugal”, atira sobre o homem que pegou na formação dos ‘leões’ em 1988.
Futre vivia no Montijo e nas vésperas dos jogos ficava em casa de Aurélio Pereira, para poder chegar a tempo e não se cansar, com o técnico a “cativá-lo” também com os “30 escudos que lhe dava no fim dos treinos para comer uma sandes e beber um sumo”.
“O Aurélio Pereira não é conhecido como devia ser. Manteve-se sempre na sombra dos louros. Foi difícil convencê-lo para o livro, teve de ser a família a fazê-lo. Deixou um legado importante ao futebol português que tem de ser contado, de ficar escrito”, defende Rui Miguel Tovar.
Defensor do “futebol humanizado, não mecanizado”, este caça-talentos deu dormida em sua casa a vários jovens para poderem ir aos jogos, transportou outros para os desafios no seu Mini cor de laranja e aproveitou inúmeros fins de semana românticos para ver jovens atletas em ação.
Ao todo, o personagem que resultou neste livro “descobriu ou trabalhou” 62 internacionais pela principal seleção de Portugal, incluindo, entre outros, João Moutinho, Rui Patrício, Beto, João Mário, Peixe, Nani e William Carvalho.
Neste livro é contado como Aurélio Pereira montou a primeira “rede nacional de olheiros”, em que os ‘sportinguistas’ espalhados pelo país eram desafiados a telefonar ou a escrever cartas para o Sporting dando conta das suas descobertas de jovens com talento excecional, promissor.
O amor de Aurélio Pereira ao país “e a sua eterna vontade de ajudar” fez com que um dia, a pedido de Carlos Queiroz, que treinava as seleções jovens de Portugal, lhe aconselhasse para determinado jogo a aposta em Paulo Sousa, na altura no Benfica, para jogar nas costas do avançado: "nesse desafio partiu a defesa da França e expulsou um adversário”.
“Este livro é também muito interessante sob o ponto de vista humano. O Aurélio cuidava, acompanhava os miúdos de perto”, diz o autor, que recorda que esta história “também é feita de falhanços, como a de levar Paulo Sousa para o Sporting”, um dos episódios menos bem-sucedidos relatados “de forma muito graciosa”.
O livro, que segue a sua vida de forma cronológica, conta desde os seus tempos de futebolista na formação do Sporting, sem chegar a sénior, até quando se tornou treinador, “nas horas vagas”, para ajudar o irmão, “orientando o Fofó e uma equipa de bancários que não eram bancários no campeonato do INATEL, até chegar novamente ao Sporting”.
Aurélio Pereira “merecia uma estátua em todas as cidades onde foi buscar jogadores”, rematou Paulo Futre.
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