William Bourdon foi um dos presentes na conferência de imprensa realizada esta tarde num hotel lisboeta sobre o caso de Rui Pinto, o 'Whistleblower' responsável pelos casos 'Football Leaks' e mais recentemente 'Luanda Leaks'.

O advogado francês demonstrou o grande orgulho em defender o 'whistleblower' português, acrescentando que Portugal deverá estar orgulhoso de Rui Pinto e que todos os cidadãos, portugueses e mundiais têm o direito a ter acesso à informação adquirida pelo 'hacker'.

"É um privilégio para um advogado defender uma pessoa como ele. O Rui Pinto é um filho de Portugal e o país deve de estar cada vez mais orgulhoso de ter tido este filho. Devemos estar gratos porque a prova está feita, independentemente do caso, sem os 'whistleblowers' as pessoas ficam privadas de conhecer as redes de corrupção e lavagens de dinheiro. Os cidadãos portugueses têm o direito a ter o acesso à informação revelada por Rui Pinto, quer no Football Leaks quer no Luanda Leaks. Estas informações são decisivas para melhorar o funcionamento dos organismos de regulamento existentes em Portugal, serão essenciais para recuperar milhões de euros", afirmou.

O advogado reiterou a vontade do 'Whistleblower' de colaborar com as autoridades portuguesas, considerando ainda que Rui Pinto não é um delinquente.

"Reitero a vontade, que foi me foi manifestada hoje de amanhã pelo Rui Pinto, no sentido de colaborar com as autoridades portuguesas de forma franca e direta. (...) Rui Pinto não é um delinquente,  é um lançador de alertas que deve de ser protegido e é assim que ele é entendido e visto por vários procuradores europeus no âmbito do Eurojust", disse.

"Eu lembro que a 24 horas de Rui Pinto ser detido em Budapeste estive com ele bastante tempo. Ele transmitiu-me que desejava integrar-se num programa de proteção de testemunhas de corrupção, o que não foi possível porque foi preso no dia seguinte. A ironia desta história é que as autoridades húngaras confiscaram um telemóvel fornecido pelas autoridades francesas no âmbito desse programa. Esse telenovela que pertence às autoridades francesa está nas mãos da justiça portuguesa. O lugar do Rui pinto é estar em liberdade. E deixo o alerta: não há nenhum 'whistleblower' como o Rui Pinto que esteja preso na Europa.  A acusação de tentativa de extorsão é totalmente artificial e estamos convencidos que vamos provar que não é culpado", concluiu.

No período de perguntas dos jornalistas, o advogado revelou ainda ter a esperança que Rui Pinto esteja em liberdade na altura em que for chamado para o julgamento.

"Este julgamento será uma oportunidade para o publico ver a importância do que Rui Pinto fez", disse, acrescentando ainda (mais tarde na conferência) que acredita que Rui Pinto será absolvido.

"Ele nunca pediu dinheiro a ninguém. Com a Doyen houve uma tentativa infantil de tentar ver até onde iam, mas ele não ia receber dinheiro nenhum. Ele queria fazer parte do programa de proteção de testemunhas e entrar nesse programa é ficar sem fundos. É verdade que ele pensava em entrar no programa de testemunhas, sem nenhum pedido financeiro a ninguém. Nunca vi ninguém taão indiferente em relação a dinheiro como o Rui", acrescentou.

"Mais de 35 milhões de euros recuperados"

Delphine Halgand-Mishra, diretora executiva da The Signals Network, uma organização sem fins lucrativos que apoia denunciantes, revelou que mais de 35 milhões de euros foram recuperados com base nas informações de Rui Pinto, destacando ainda a quantidade de informação fornecida pelo hacker.

"Rui Pinto deu informações que foram investigadas e publicadas pelos 50 maiores meios de comunicação do mundo nos últimos quatro anos. Não há nenhuma outra fonte de informação a este nível. Procuradores em vários países estão a investigar a corrupção revelada por Rui Pinto e durante esse tempo Rui Pinto está preso. Procuradores por toda a Europa encontraram criminosos e durante esse tempo Rui Pinto está preso. Pelo menos 35 milhões de euros foram recuperados por procuradores por toda a Europa e durante esse tempo, Rui Pinto está preso. De fato, a sua colaboração com os procuradores europeus parou desde que foi preso", afirmou.

Halgand-Mishra deixou ainda o apelo à população portuguesa para que apoie o 'whistleblower'.

"(...) gostava de pedir a ajuda de todos os cidadãos portugueses, de todos os artistas portugueses, bem como das suas associações que se preocupam com a luta contra a corrupção. Que se interessam pelas sua democracias. E gostava de lhes pedir que se juntem a organizações sem fins lucrativos, como a Signal, no apoio a Rui Pinto", concluiu.

"A importância da informação obtida por Rui Pinto não pode ser subestimada"

Stefan Candea, coordenador do European Investigative Collaborations (EIC - Rede europeia de colaborações de investigações) afirmou que o valor das informações reveladas por Rui Pinto "foi confirmada várias vezes, por várias autoridades independentes", destacando ainda o efeito que as informações tiveram no futebol europeu.

"(...) tiveram um sério impacto na multibilionaria industria do futebol, com os clubes profissionais a serem obrigados a adotarem procedimentos mais transparentes e justos. Além disso, o apoio dos fãs de futebol europeus foi alargado".

Candea destacou ainda a quantidade de meios que divulgaram histórias baseadas nos documentos e outras informações obtidas pelo hacker.

"A rede EIC não deseja interferir nos procedimentos judiciais em Portugal. Acreditamos, contudo, que o papel crucial - e provado - da importantes informações reveladas nos dados de Rui Pinto não pode ser subestimada.

"Rui Pinto não é um criminoso, é um herói"

Edwy Plenel, editor do Mediapart, um jornal independente francês de investigação e opinião on-line,  afirmou que Rui Pinto é um herói, que revelou crimes contra a democracia.

"Defender Rui Pinto é defender o jornalismo. Rui Pinto não é um criminoso, é um herói. É um herói da democracia, é um herói que permitiu ao povo saber aquilo que lhe era escondido. Ele não cometeu um crime, ele revelou um crime. Crimes contra a república, contra o interesse publico de corrupção e da fraude fiscal", afirmou.

Plenel considera mesmo que caso Rui Pinto seja condenado esta condenação prolonga-se ao jornalismo.

"O destino de Rui Pinto põe em causa o direito a ser informado. Se ele é condenado como um criminoso, será a condenação do jornalismo. Rui Pinto é um herói da revolução tecnológica, que permite hoje em dia sabermos aquilo que anteriormente estava escondido. Ele é um herói da revelação da corrupção, tal como Julian Assange foi dos crimes de guerra e Snowden da vigilância generalizada"

A conferência de imprensa realizada esta sexta-feira teve a presença de William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota, advogados, Gerard Ryle, diretor do ICIJ - International Consortium of Investigative Journalists, Edwy Plenel, editor de Mediapart, representando o CIJ - Consórcio Internacional de Jornalistas, Stefan Candea, coordenador do European Investigative Collaborations, Henri Thulliez, diretor da PPLAAF - Plateforma de Proteção dos denunciantes em África, e Delphine Halgand-Mishra, diretora executiva da The Signals Network.

*Artigo atualizado às 18h30