Flávio Donizete abriu o coração e falou do calvário que viveu com o consumo de drogas. Numa entrevista ao site brasileiro 'UOL', O antigo jogador do São Paulo contou como a cocaína destruiu-lhe a carreira, levou-lhe os amigos, o dinheiro e como quase ficou sem família. Um relato impressionante de um atleta que, aos 35 anos, tenta reencontrar a paixão pelo futebol na Portuguesa.
"Não parava em casa, era só festas e bebidas alcoólicas. Houve épocas em que eu não passava um dia sem usar cocaína", confidenciou, depois de experimentar a droga por influência de amigos em 2009, quando terminou a sua ligação com o São Paulo.
"Eles disseram-me 'cheira'!' Eu cheirei e naquele momento o efeito da bebida passou. 'O que é isto?'. Sempre que saía para festas, dizia: 'hoje posso beber até à hora que quiser porque, quando usar cocaína vai passar o efeito. Vamos lá buscar!'", contou.
A vício da droga deixou o antigo defesa central quase sem nada. Passou a ter mais lesões, engordou e passou a fugir para não ser apanhado em controlos antidoping. Até que desistiu do futebol. Desempregado e com pouco dinheiro, deixou de contribuir em casa na educação e alimentação das filhas.
"Era droga todos os dias. Quando estava sozinho, tentava manipular, enganar, roubar e omitir. Fazia de tudo para conseguir a substância. A qualquer preço. Independentemente de prejudicar alguém ou não. Se conseguisse 15 reais e não tivesse nada para comer, não pensava em trazer o dinheiro para casa. A primeira coisa era a cocaína. Às vezes as minhas filhas ficavam sem comer. Se conseguisse uns 20 reais, gastava cinco em ovos e o resto em cocaína. Às vezes, nem trazia os ovos. Deixava-as comer arroz e feijão puro, mas a minha droga não faltava", confessou.
O antigo campeão do Mudo de clubes e vencedor da Taça Libertadores da América começou a sentir-se culpado de tudo. Começou a ter consciência que não estava a fazer bem a si, nem à família nem aos amigos.
"Depois vinha o sentimento de culpa por estar desempregado, sem dinheiro. As pessoas acusavam, apontavam-me o dedo dizendo que eu era um vagabundo, um safado. Os amigos e a família começaram a afastar-se. Você já começa a sentir-se menosprezado. Achava injusto, mas a verdade é que não era", explicou ao 'UOL'.
Foi graças à mulher Cibele que o jogador foi, aos poucos, deixando o vício. Aos poucos, vai tentando voltar à normalidade.
"Nunca ando com dinheiro. Se tiver 10 reais na carteira, sei que vou atrás da droga. Há momentos que tenho muita vontade de usar drogas. A minha mulher fica 'colada' a mim 24 horas por dia. Se vou à casa de banho, se for à rua colocar o lixo, ela está atrás de mim. Onde quer que eu vá. Sem esse suporte, a minha queda seria certa", confessa Flávio Donizete, um jogador que hoje evita lugares como bares.
"Hoje não posso beber um copo de cerveja porque aciona um gatilho. O corpo pede a droga. Quando eu bebo um copo, automaticamente dá-me vontade de usar drogas", completa.
Na Portuguesa, Flávio Donizente tenta retomar o sonho de voltar ao futebol. Tem de perder três três quilos, recuperar a velocidade e mostrar o que vale: "Estou a encarar isto como a oportunidade da minha vida, a oportunidade única de voltar", atira o defesa central, apesar das dificuldades na luta contra o vício da droga.
"A cabeça de um viciado, de um dependente químico, não pára. Estou a conseguir, mas não é fácil. É um leão. Dois leões. Três leões por dia. A droga causou-me tantos estragos e prejudicou-me tanto que hoje tenho medo de andar sozinho", termina.
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