O Desportivo das Aves regressa ao terceiro escalão nacional, designado Campeonato de Portugal (CdP), na companhia do centenário Vitória de Setúbal, que também se despediu da I Liga rumo à estreia no futebol não profissional.
Os nortenhos voltarão a competir no terceiro nível ao fim de 36 anos e seis épocas na elite, abrilhantadas pela conquista da Taça de Portugal em 2017/18, embora as divergências com a administração da SAD tenham levado a entidade fundadora a inscrever uma equipa sénior na II Divisão distrital da Associação de Futebol do Porto.
Situação idêntica vivenciou o CF Os Belenenses, campeão nacional em 1945/46 e quarto emblema mais pontuado em 86 edições da I Liga, que compete há duas épocas no futebol distrital lisboeta e já festejou duas subidas consecutivas, tendo empurrado a primodivisionária Belenenses SAD para fora do Restelo.
À par do Desportivo das Aves, o Vitória de Setúbal, o sétimo mais cotado na história do escalão principal e portador de três Taças de Portugal e uma Taça da Liga, desceu dois patamares por ter reprovado o processo de licenciamento nas provas profissionais de 2020/21, tal como aconteceu ao Beira-Mar (27 presenças na I Liga) no verão de 2015.
Duas épocas após a despedida da elite, em 2012/13, o conceituado clube de Aveiro afundou-se em dívidas e foi despromovido pela via administrativa ao Campeonato de Portugal, no qual falhou a inscrição, potenciando um recomeço do ‘zero’ a partir do II nível distrital, que demorou quatro anos a consumar o regresso aos nacionais.
Com a maioria do capital nas mãos de investidores estrangeiros, o Beira-Mar assistiu à delapidação do património e à insolvência da SAD, a par da União de Leiria, agora estabilizada no CdP, mas que até evoluiu em 2012/13 com uma equipa da administração na então II Divisão B e outra do clube nas distritais, logo após a 18.ª aparição na I Liga.
O Atlético CP (24 temporadas na I Liga) também enfrentou recentes dificuldades de sobrevivência graças às cisões do clube fundador com a SAD, um fenómeno despontado no futebol português nos anos 90, e ainda compete no nível distrital, ao invés da Olhanense (20), que abandonou a II Liga para se fixar no Campeonato de Portugal.
Outro dos exemplos mais recentes dessas dissonâncias internas chama-se CF União da Madeira (seis presenças), cuja SAD vai acompanhar pela terceira época consecutiva outros emblemas históricos no terceiro escalão, ao passo que o clube optou por descer este ano aos regionais e designar-se como Associação Desportiva União da Madeira.
Essa mutação identitária pode advir da refundação de instituições endividadas, casos dos atuais Sport Clube Salgueiros (24 épocas na I Liga como Sport Comércio e Salgueiros), Associação Naval 1893 (seis como Naval 1.º de Maio), Olímpico do Montijo (três como CD Montijo), Seixal Clube 1925 (duas como Seixal FC), FC Felgueiras 1932 (uma como FC Felgueiras) e União 1919 (uma como União de Coimbra).
Os dois clubes do distrito de Coimbra procuram estrear-se no CdP, ao qual regressa em 2020/21 o Tirsense (oito temporadas na elite), repetindo os passos de Lusitano de Évora (14), Sporting de Espinho (11), Oriental (sete), Torreense (seis), Alverca (cinco), Caldas, Leça e Sanjoanense (quatro), Amora (três), Fafe, Recreio de Águeda e Trofense (uma).
Nesse nível surge ainda o Fabril do Barreiro (23 presenças), indissociável da evolução da empresa-mãe Companhia União Fabril, que renomeou quatro vezes a CUF Barreiro em oito décadas, acolheu o efémero CUF Porto até 1950 e controlou as três épocas da dissolvida CUF Lisboa, então denominada CF Os Unidos, na I Liga, entre 1940 e 1943.
Já os distritais hospedam os centenários Barreirense (24 participações), União de Tomar (seis) e Lusitano Vila Real de Santo António (três), além do Ginásio de Alcobaça (uma), enquanto Campomaiorense e O Elvas (cinco) descontinuaram o futebol sénior ao longo da última década e o Académico do Porto (cinco) dedica-se às modalidades amadoras.
Desaparecidos em combate ficaram o Carcavelinhos (cinco épocas na elite) e o União Foot-Ball Lisboa (uma), ambos na génese do Atlético CP, bem como o Sport Lisboa e Elvas (duas), que se fundiu com o vizinho Sporting Clube de Elvas para erguer O Elvas, e o Grupo Desportivo Riopele (uma), outro dos clubes-empresa do futebol português.
O caso mais flagrante desse ‘eclipse’ chama-se CF Estrela da Amadora (16 aparições), que abandonou a elite em 2008/09 arrastado por uma maré de dívidas e foi declarado insolvente em 2010, um ano antes de ser refundado por seis sócios, como Clube Desportivo Estrela, no intuito de herdar o legado do histórico emblema da Reboleira.
Os ‘tricolores’ apostaram nas camadas jovens até 2017/18 e ressurgiram no patamar sénior daí em diante, evoluindo nas divisões da Associação de Futebol de Lisboa até negociar a fusão com o Club Sintra Football em julho, permitindo a estreia do novato Club Football Estrela da Amadora SAD na próxima edição do Campeonato de Portugal.
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