A-dos-Francos, uma pequena vila do concelho das Caldas da Rainha, está a dar cartas no futebol feminino, com o grupo desportivo a acumular os títulos de campeão de inverno, pentacampeão distrital e vencedor da taça distrital.
Sem tradição no futebol feminino, o Grupo Desportivo e Cultural (GDC) de A-dos-Francos abriu as portas à modalidade há cerca de seis anos, “a pedido” de uma das fundadoras da equipa.
«Na formação tínhamos dois irmãos que eram normalmente acompanhados pela irmã, que ficava a vê-los jogar. Entretanto, foi começando a juntar outras colegas e perguntou-me se podia fazer uma equipa de futebol feminino, e nós apoiámos», recorda o presidente, José Domingos.
A equipa depois teve direito a treinador próprio, iniciando com Paulo Sousa a ascensão à I divisão nacional, depois de se sagrar pentacampeã distrital e vencer a taça distrital [de Leiria].
O segredo, diz o treinador, reside em «todas se darem bastante bem, serem muito solidárias e muito unidas», numa postura extensiva à direção e equipa técnica, com os treinadores e assumirem-se «acima de tudo amigos e colegas».
O resultado é «um clima positivo que se vai criando» e que faz com que o clube »vá dando conta do recado, superando todas as dificuldades que se vão deparando», sublinha Paulo Sousa.
Catarina Sousa, de 26 anos, corrobora: «Somos uma família, quer dentro de campo quer fora, estamos todas unidas, a equipa técnica, os apoiantes de fora, isto é a família de A-dos-Francos».
Natural de Monte Real (Leiria), a melhor marcadora nacional é exemplo do empenho na superação de dificuldades, percorrendo semanalmente 600 quilómetros para comparecer aos treinos e aos jogos.
«Saio do trabalho, apanho as minhas colegas que estão a estudar em Leiria e depois é tipo autocarro, a camioneta passa por todos os postos, todas as paragens, apanho as miúdas, embora para o treino e no fim do treino deixo-as em casa», conta a jogadora, que pega ao trabalho às 09h00 e em dia de treino regressa a casa depois da meia-noite.
Noutros casos, como os de Lara Matos ou Solange Carvalho, são os patrocinadores que tornam possíveis as jogadoras acumularem os estudos na escola Superior de Desporto (em Rio Maior) com os empregos.
«Conseguiram-me arranjar trabalho aqui na piscina de A-dos-Francos e eu aceitei [integrar a equipa], porque, como gosto de jogar e necessitava de trabalhar, juntou-se o útil ao agradável», disse Lara.
Já Solange trabalha desde setembro no Supermercado Arnóia, um dos patrocinadores do clube.
«Basicamente, o que faço é organizar o armazém, carregar e descarregar as carrinhas e depois quando falta alguma coisa lá em baixo na loja», explica a jogadora de Lisboa, admitindo que sem o emprego «não tinha forma de estar a jogar» nem de conciliar o futebol com o trabalho e o mestrado que frequenta duas vezes por semana, em Rio Maior.
Os pais e familiares que compõem a entusiástica claque que acompanha a equipa são outros dos grandes apoios que suportam a modalidade, sustentada pela direção do clube com engenho e arte.
«Fazemos pão com chouriço, vendemos aqui no bar, e agora atualmente temos uma carrinha e transportamos para Caldas, porque temos que lá ir jogar», conta o presidente, que no intervalo dos jogos faz também um peditório para angariar fundos na assistência.
Das mãos de José Domingos saiu igualmente a transformação de um contentor no bar do clube ou a construção das bancadas do campo onde a equipa deixou de poder jogar (por não ter as medidas regulamentares) desde que subiu à 1.ª divisão.
Mas nem essa dificuldade acrescida desmotiva a equipa, que se manteve invencível até à oitava jornada e que só no último jogo da primeira volta sofreu uma derrota.
Nada que retire mérito ao plantel que conta com várias jogadoras nas seleções nacionais A, sub-19, sub-17 e sub-16 e que o treinador acredita que cumprirá o objetivo de «ficar nas quatro primeiras de forma a garantir logo a manutenção na 1ª divisão».
Se assim for, novas metas se avizinham, com a direção do GDC a aspirar à construção de um novo campo e à criação de uma academia de futebol feminino.
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