Uma vitória separa o Atlético Ouriense do título de campeão nacional de futebol feminino, o que, a acontecer, interrompe a hegemonia do 1.º Dezembro, vencedor há 11 anos consecutivos.
Em Ourém, a penúltima jornada, no domingo, está a ser encarada com um misto de entusiasmo e realismo.
«É um momento alto no futebol feminino do clube e está a ser vivido com satisfação. Mas também com humildade e pés bem assentes na terra», afirma o treinador, Mauro Moderno.
Se vencer o Albergaria, o Atlético Ouriense é campeão. Se perder ou empatar, o título será entregue só na última jornada.
O presidente João Sousa já festeja o facto de o Atlético Ouriense ter contribuído para maior equilíbrio no campeonato.
«O 1.º Dezembro ainda pode ser campeão, mas penso que não vá acontecer. Ou somos nós ou o Albergaria e isso é uma grande vitória para o futebol feminino. Deixa-nos bastante satisfeitos, porque o nosso objetivo era que o futebol feminino passasse a ser visto como uma modalidade competitiva», afirmou.
A atual época do Atlético Ouriense é fruto da aposta da direção de João Sousa. Antes, a equipa nunca havia ganho um jogo oficial. Em 2010, o atual presidente assumiu a gestão do clube e deu prioridade ao futebol feminino.
«Percebemos que havia um 'nicho de mercado' que permitia, num curto espaço de tempo, projetar o nome do Ourém a nível nacional. Essa aposta tem corrido de forma bastante satisfatória», contou.
Juntou jogadoras da região, um jovem treinador e garantiu o apoio incondicional da direção. As jogadoras não recebem dinheiro, mas estão no centro das atenções porque são «aposta estratégica». Surtiu efeito: na época passada, foram campeãs da II divisão, conseguiram a promoção e hoje discutem o principal título nacional.
Aos domingos, centenas de pessoas enchem o Campo da Caridade. «Tentámos que o futebol feminino passasse a ser moda e, com os resultados, isso veio a confirmar-se», conta João Sousa. No próximo jogo, entre o líder e o segundo classificado, é esperada a maior afluência da época.
Mafalda Baptista, 31 anos, "capitã" de equipa, ainda não se imagina campeã nacional: «Pensamos nisso, mas preferimos encarar um jogo de cada vez. Tem sido um longo percurso até aqui e, chegar onde chegámos, derrotando uma excelente equipa como o 1.º Dezembro, é fantástico».
A jogadora do meio-campo reconhece que há «um bocadinho de pressão», mas confia nas capacidades do plantel: «As jogadoras estão preparadas para vencer tudo».
Com uma equipa em que a média de idades é 20 anos, Mauro Moderno sublinha a necessidade de controlar expetativas: «Temos de gerir todas estas situações com bastante humildade. Há muitas jogadoras que nunca passaram por esta situação. Apesar disso, o comportamento delas tem sido fantástico».
Para domingo, Mauro Moderno prevê muito equilíbrio entre equipas compostas pelos «benjamins do futebol português - algumas delas serão a espinha dorsal da seleção nacional».
Se ganhar, o Atlético Ouriense sucede ao 1.º Dezembro. Mas o técnico não acredita que Ourém inicie uma década de domínio.
«Gostava que o Ouriense conseguisse onze títulos seguidos, mas o futebol feminino tem passado por uma evolução muito grande. Existe uma maior harmonização nos outros clubes. Vai haver muito mais equilíbrio a partir deste momento», frisou.
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