O presidente do FC Infesta, Manuel Ramos, que hoje vai anunciar, 39 anos depois, o abandono da presidência do último classificado da Série Norte da II Divisão de futebol, é descrito como um dirigente «cumpridor, solidário e apaixonado».
Manuel Ramos tomou posse em 24 de julho de 1974 para suceder a Gaspar Lima, abraçou a presidência do clube pela «vontade de ver a freguesia crescer e as crianças também».
É que Manuel Ramos é «oficialmente» avô de seis netos mas diz-se «avô não oficial» de centenas de «infestistas». «Os meus meninos e meninas da formação que atravessam a rua para me cumprimentar», contou à agência Lusa.
Ao tomar posse, o quase octogenário - completa 80 anos dentro de dias -, encontrou um clube sem água quente nem luz elétrica, nem transporte para os jogos, contrastando com os «cinco carros hoje à disposição».
Assim, não espanta que, quando questionado sobre qual o maior feito destes 39 anos de presidência, destaque a inauguração do pavilhão (em 1982) que permitiu somar ao futebol, modalidade “rainha” do FC Infesta, o andebol, em detrimento dos títulos.
«Tivemos muitos feitos. Ao longo destas quase quatro décadas não consigo destacar um só.
Recentemente, a subida à II Divisão foi especial porque foi com um antigo atleta, agora treinador, o José Manuel, e é bom pertencer a um clube que dá o pão a comer a um elemento da casa. O percurso com o Augusto Mata também é de realçar. Foram três subidas sucessivas. Mas houve tantos outros. Tantos títulos de campeões em vários escalões e tanto no futebol como no andebol», recordou Manuel Ramos.
A decisão pela saída da presidência, 39 anos depois, que será anunciada hoje à noite, deve-se à convicção de que «está na hora de dar o lugar a outros», mas também o facto de sentir um «grande desgaste físico, financeiro e familiar».
Além dos «milhares do próprio bolso» dados ao Infesta, realce para a cedência, em 2011, de terrenos da família Ramos, na zona da Arroteia, em São Mamede de Infesta, no concelho de Matosinhos, para que os seniores pudessem jogar, quando o Estádio Moreira Marques estava impedido pela Federação Portuguesa de Futebol por não cumprir as dimensões mínimas para jogos da II e III Divisões Nacionais.
Na altura, a resposta da Câmara Municipal de Matosinhos tardava e Manuel Ramos pôs mãos à obra e «improvisou» um campo mesmo em frente à sua casa, na sua propriedade.
Sobre o futuro, Manuel Ramos, crê que o clube mamedense apenas é «viável» se «se sustentar sozinho e sem esperar ofertas ou subsídios».
«Não se entre em loucuras, subidas de divisão, pedidos de empréstimo. O Infesta tem de ser bem gerido», concluiu o homem que diz ter acumulado em 39 anos de futebol «muitos, inúmeros, incontáveis, adversários, mas nenhum inimigo».
O presidente mais solidário de sempre
José Manuel é o atual treinador dos seniores mas foi jogador infestista desde as escolinhas. Para o técnico, Manuel Ramos é o presidente «mais solidário que já conheceu», um homem que «vai ao balneário pedir empenho e dedicação mas também confortar a equipa».
«Nunca deixou cair um treinador. Por piores que sejam os resultados. Ele honra os contratos à frente da fome de vitórias», assegurou José Manuel, à Lusa.
Já o responsável pelas três subidas consecutivas, na década de 80, que culminou no título de campeão da III Divisão Nacional, em 1989, Augusto Mata, atual treinador do "rival" Padroense, fala de Manuel Ramos como «um dirigente sério que honra o futebol», mas com quem não gosta de perder.
«Se perder para o Infesta não sabe tão mal como contra outros? Sabe, pois. Até sabe pior porque a rivalidade é grande. Mas para mim é sempre um encontro especial, um momento de memórias e abraços.
No Infesta, com Manuel Ramos, fiz grandes coisas. Fizemos aliás. Às vezes com zangas, outras vezes não, mas grande respeito e companheirismo», recordou Augusto Mata.
A Assembleia-Geral, que servirá para Manuel Ramos anunciar a sua despedida, está agendada para hoje, pelas 20:30 horas, na sede social, junto ao Estádio Moreira Marques.
O próximo encontro oficial do Infesta está marcado para domingo, pelas 15:00 horas, frente ao líder da II Divisão, Série Norte, o Mirandela, e será disputado na Arroteia, junto à casa do ainda presidente.
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