No passado, o Ajax foi um gigante do futebol europeu, mas atualmente atravessa uma das crises mais graves dos seus 123 anos de história, com a 14ª posição na Eredivisie, demissões de dirigentes e adeptos em fúria.
O clássico em casa contra o Feyenoord, no último domingo, foi suspenso pelo árbitro, quando os visitantes estavam a vencer por 3-0, devido ao lançamento de pirotécnia pelos adeptos do Ajax.
Houve mesmo invasão de campo e confrontos com a polícia, que foi forçada a usar bombas de gás lacrimogéneo.
"O clube está em chamas", foi o título no site da associação de adeptos, descrevendo a interrupção do jogo no domingo contra o Feyenoord como "um agravamento da crise" que abala o clube vencedor do campeonato neerlandês por 36 ocasiões.
Os 35 minutos restantes do jogo interrompido no domingo vão ser jogados à porta fechada na quarta-feira, anunciou a federação neerlandesa de futebol.
É preciso voltar à temporada 1964/1965, quando a lenda Johan Cruyff tinha acabado de chegar à equipa juvenil do Ajax, para encontrar um arranque de temporada pior. A equipa, que venceu apenas um jogo na Eredivisie até agora, está a dez pontos do líder, o PSV Eindhoven.
Para o jornal NRC, este jogo contra o Feyenoord "simbolizou a crise existencial em que o Ajax se encontra".
Na Liga Europa, os comandados de Maurice Steijn, que assumiu o comando técnico em junho, empataram com o Olympique de Marselha (3-3), outro clube abalado por uma crise, e não será fácil o apuramento num grupo que também inclui o Brighton, atual terceiro classificado da Premier League.
Após o fiasco no domingo, o clube anunciou a saída "com efeito imediato" do diretor de futebol, Sven Mislintat.
Para a associação de adeptos, "está claro que a instabilidade reina no clube, não apenas em campo, mas também na estrutura".
- Luta pelo poder-
No cargo há apenas quatro meses, Mislintat estava a ser investigado por um possível conflito de interesses em relação a uma transferência de última hora nesta pré-temporada, envolvendo o lateral croata Borna Sosa, por oito milhões de euros.
O Ajax negou que a demissão esteja relacionada com a investigação em causa, citando a "falta de apoio geral dentro da organização" enquanto a razão por trás da decisão.
A imprensa holandesa tem relatado uma luta pelo poder dentro do clube nos últimos meses.
Mislintat terá perturbado um treino na semana passada, ao gritar para os jogadores que Steijn poderia ser demitido em caso de derrota contra o Feyenoord.
As saídas consecutivas do diretor desportivo, Marc Overmars, em fevereiro de 2022, e do diretor-geral, Edwin van der Sar, em maio de 2023, fragilizaram a estrutura.
O Ajax, então treinado por Erik ten Hag, chegou às meias-finais da Liga dos Campeões em 2019.
"Foi, naturalmente, uma tarde muito sombria", admitiu Steijn no domingo. As especulações continuam sobre o nome do seu substituto. Louis van Gaal, lenda do Ajax, está doente e mostrou-se indisponível, afirmando que a sua saúde deve ser a prioridade.
O diretor-geral interino do Ajax, Jan Van Halst, também está debaixo de fogo entre os adeptos e admitiu que o clube está a passar por uma crise profunda.
"É um período muito difícil. Se fosse possível simplesmente mudar o rumo das coisas apertando um botão...", disse.
O jornalista especializado em futebol neerlandês, Jaap Stalenburg, resume a situação da seguinte forma para a AFP: "é o caos, um caos total". "Eles estão em confronto em todos os lugares. No campo, fora dele. Eles precisam de um ditador, de um líder forte para colocar ordem em tudo isto", acrescentou.
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