O ministro dos Negócios Estrangeiros sérvio, Ivica Dacic, denunciou hoje uma “provocação política”, numa referência ao incidente no qual um ‘drone’ com uma bandeira albanesa sobrevoou quarta-feira um estádio de futebol em Belgrado.
O encontro da fase de qualificação para o Euro 2016 entre a Sérvia e Albânia, vizinhos e rivais balcânicos e que decorria no estádio do Partizan de Belgrado perante dezenas de milhares de espetadores, foi interrompido após o surgimento de ‘drone’ onde flutuava uma bandeira da “Grande Albânia”.
O jogo foi interrompido após um jogador sérvio ter intercetado o objeto voador e alguns apoiantes da equipa sérvia invadirem o campo. Como medida de prevenção, os adeptos albaneses tinham sido impedidos de se deslocar ao estádio.
Ivica Dacic definiu o incidente como uma “provocação” previamente planeada, e responsabilizou Olsi Rama, irmão do primeiro-ministro albanês Edi Rama, que se encontrava no estádio e negou as acusações.
“É particularmente perturbante que o responsável [pelo incidente] seja o irmão do primeiro-ministro da Albânia, que em breve será recebido em Belgrado”, disse Dacic.
A planeada visita do chefe do governo albanês, agendada para a próxima semana e a primeira deslocação de um líder de Tirana a Belgrado em 68 anos, segue-se à normalização das relações bilaterais na sequência de um acordo firmado em 2013 sob mediação da União Europeia (UE).
Responsáveis oficiais albaneses escusaram-se a comentar se o primeiro-ministro mantém a deslocação à Sérvia.
A última visita de alto nível ocorreu em 1946, quando o então primeiro-ministro albanês Henver Hoxha se encontrou em Belgrado com o líder jugoslavo Josip Broz Tito em 1946, antes da rutura entre estes dois países do “campo socialista”.
“O objetivo da visita de Rama a Belgrado é completamente diferente face ao que sucedeu” no jogo de futebol, considerou o vice-primeiro-ministro albanês Niko Peleshi.
O Ministério do Interior da Sérvia disse que Olsi Rama foi detido na sequência do incidente e admitiu ter controlado o ‘drone’ a partir do seu lugar, num camarote do estádio, onde se destacava uma bandeira da “Grande Albânia”, o projeto nacionalista destinado a unir na mesma entidade as comunidades albanesas na Albânia, Kosovo, Montenegro, Macedónia e sul da Sérvia.
Mas o irmão do primeiro-ministro, que regressou a Tirana com a equipa albanesa, onde foram recebidos no aeroporto “Madre Teresa” por centenas de adeptos em delírio, desmentiu esta versão. “Nada tive a ver com o ‘drone’”, disse.
“Não sei de onde veio essa história”, adiantou Rama. “Não fui detido”, assegurou ainda, referindo que a polícia sérvia apenas lhe pediu o seu passaporte norte-americano e a máquina fotográfica.
Numa mensagem na sua conta na rede social Twitter, o primeiro-ministro Edi Rama não deixou de manifestar “orgulho” pela sua equipa nacional, numa comprovação da persistência das tensões nacionalistas entre Belgrado e Pristina, agravadas pela “crise do Kosovo” em 1999 e a consequente a independência da província do sul da Sérvia com maioria de população albanesa.
Proclamada em 2008 – após a instauração de um protetorado internacional na sequência da guerra na região e dos ataques da NATO à ex-Jugoslávia –, a independência do Kosovo já foi reconhecida por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos e a maioria dos países da UE.
No passado, a desintegração da ex-Jugoslávia também se iniciou após violentos confrontos em maio de 1990 entre adeptos do Dínamo de Zagreb e do Estrela Vermelha de Belgrado, no estádio da primeira equipa. O campeonato de futebol jugoslavo foi então interrompido, para nunca mais ser retomado.
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