Quando os cronistas e comentadores já se preparavam para lamentar a falta de eficácia da seleção de Portugal, e criticar o modelo e sistema de jogo, eis que surge Cristiano Ronaldo a providenciar o primeiro "milagre" de Fernando Santos. Portugal vencia a Dinamarca, somava os primeiros pontos no Grupo I e aliviava a "matemática", colocando, para já, a calculadora de lado, no que toca as contas do grupo.

Mas a vitória em solo dinamarquês foi tudo menos fácil. É verdade que Portugal teve mais bola, mais lances de perigo, jogou mais vezes no meio-campo contrário mas voltou a apresentar o velho problema do futebol português: a falta de eficácia.

Relativamente à derrota no amigável com a França, Fernando Santos lançou o posicional e mais físico William Carvalho para o jogo, em detrimento do cerebral e criativo André Gomes. O "velhinho" Ricardo Carvalho voltou a titularidade, "roubando" o lugar a Bruno Alves e dando razão ao novo selecionador de Portugal.

Na estreia de Fernando Santos no banco de Portugal em jogos oficiais (castigo imposto pela FIFA está suspenso por determinação do TAS), Ronaldo foi o salvador mas adiou para muito tarde a merecida vitória. CR7 e Quaresma mataram as saudades um do outro e Ricardo Carvalho mostrou o quanto Portugal perdeu com a sua ausência. Melhor em campo numa exibição monstruosa, sem qualquer erro. Ninguém diria que tem 36 anos.

Com uma equipa mais musculada e com melhor posicionamento, Portugal recuperava cedo a bola, não deixava que os nórdicos chegassem a área de Patrício. Bendtner raramente teve bola, o meio-campo dinamarquês foi “engolido” pelo luso, graças ao excelente trabalho de Moutinho, Tiago e William. Na frente, Ronaldo, Nani e Danny iam inventando soluções para o golo mas a pontaria continuava desafinada. Schmeichel emergiu na baliza nórdica para travar os remates de Ronaldo aos sete minutos e de Danny aos 13. Pelo meio, Nani desperdiçou uma boa oportunidade ao cabecear para fora um centro de Ronaldo.

Quando a Dinamarca criou perigo, fê-lo de forma quase pragmática. A defensiva lusa foi apanhada em contrapé, o esférico foi colocado em Krohn-Dehli na área que rematou colocado. Patrício estava batido mas o poste estava lá para impedir o golo. Estava feito o primeiro milagre de Santos. Nos minutos finais, antes do intervalo,o meio-campo português perdeu capacidade de pressão na saída de bola da Dinamarca que aproveitou para levar o perigo à baliza de Patrício em mais duas ocasiões.

No segundo tempo, Fernando Santos alterou várias vezes as peças do xadrez, colocando João Mário como 10 e mais tarde lançando Éder e finalmente Quaresma. Mexidas que haveriam de ser cruciais e determinantes.

O que Ronaldo tira, Ronaldo dá

O capitão da turma das quinas teve soberana oportunidade para dar vantagem a Portugal aos 51 minutos a passe de Danny mas, contrariamente o que é habitual, falhou o golo. Mérito para a excelente defesa de Schmeichel, a desviar para canto.

Mas Schmeichel nada pode fazer quando entrou em cena a ligação-Alcochete. Quaresma cruzou na direita, Ronaldo "leu-lhe" os pensamentos, antecipou a Kjaer e dividiu com o central dinamarquês a responsabilidade do desvio do cruzamento do extremo, aos 95 minutos. Os três pontos ficavam para Portugal, numa altura em que os nórdicos já não contavam perder. Tal como já tinha avisado, Cristiano Ronaldo voltou a ser feliz no norte da Europa, depois de ter sido o carrasco da Suécia no play-off para o Mundial.

No final do encontro Fernando Santos enalteceu o caráter da equipa para chegar a uma vitória justa frente a um dos candidatos ao apuramento. Quanto à dupla Ronaldo-Quaresma, era tudo nostalgia. Cristiano Ronaldo com saudades dos cruzamentos do Quaresma, o Mustang com saudades de jogar com o melhor do Mundo.

Em termos exibicionais, fica difícil escolher quem foi o melhor em campo. A equipa esteve bem, cometeu poucos erros, correu muito, lutou. Cristiano Ronaldo, que se tornou no melhor marcador de sempre em fases de apuramento para Europeus, podia ficar com os louros de Homem do Jogo mas a exibição de Ricardo Carvalho "roubou-lhe" esse brilho. O central do Mónaco não vai para novo mas, aos 36 anos, mostra que se pode contar com ele. Durante o tempo em que esteve afastado da Seleção por Paulo Bento devido a um ato de indisciplina em Óbidos, fica a sensação que quem perdeu mais foi Portugal.

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