A chegada de Portugal à final da edição 2024 do Europeu de sub-17 “dá uma tremenda confiança” aos futebolistas portugueses, admite o ex-selecionador António Violante, que liderou a primeira de duas conquistas lusas no escalão, em 2003.

“É extraordinariamente importante. Não sou capaz de descrever o que eles sentem, mas sei que têm todo o empenho e é ótimo ver o entusiasmo com que competem. Depois, em termos de desenvolvimento, ficam a perceber que não há muitos melhores jogadores do que eles, porque têm esse termo de comparação. Sentem que realmente são bons e que até podem vir a ser melhores ainda”, pontuou à agência Lusa o ex-treinador, de 68 anos.

Portugal, vencedor em 2003 e 2016, defrontará a Itália na quarta-feira, a partir das 20:30 locais (18:30 em Lisboa), no Estádio Alphamega, em Limassol, em Chipre, para a final do Campeonato da Europa de sub-17, que terá arbitragem do búlgaro Radoslav Gidzhenov.

“A capacidade coletiva é bem evidente. A equipa está muito bem trabalhada e os atletas mostram-se conscientes daquilo que têm de fazer e estão unidos. Vamos ver se Portugal se superioriza dentro do equilíbrio que eu perspetivo. Espero que as coisas corram bem para o nosso lado, pois era interessante voltarmos a ser campeões da Europa”, apontou António Violante, sem esperar mudanças profundas no modelo de jogo de cada finalista.

Destacando a qualidade do extremo direito Mattia Liberali, número ‘10’ transalpino, o ex-selecionador adverte que a Itália “defende muito bem e está oleada”, apesar de Portugal juntar a irreverência dos atacantes Geovany Quenda e Cardoso Varela em cada flanco à destreza do médio ofensivo Rodrigo Mora, melhor marcador da prova, com cinco tentos.

“Ainda que eu não goste de individualizar, esta seleção tem um jogador acima da média: Rodrigo Mora. Ele é muito bom e, antes de ter técnica e até funções táticas importantes, parece-me ser extraordinariamente inteligente. Aprecio muito essa característica”, disse.

Portugal está na final do Europeu de sub-17 pela terceira vez, após ter batido a Sérvia (3-2) nas ‘meias’, num jogo em que esteve em desvantagem até perto do fim, mas operou a reviravolta com golos de Rodrigo Mora, aos 89 minutos, e de João Trovisco, já aos 90+5.

“É engraçado que estava a ver este último encontro e a recordar-me da nossa meia-final com a Inglaterra no Euro2003, em Viseu. Conseguimos o 2-2 por volta dos 80 minutos e, depois, ganhámos no desempate por grandes penalidades. No domingo, pensei que era interessante se acontecesse algo parecido com esse jogo, mas até foi melhor”, partilhou.

Com uma passagem de quase duas décadas pelo comando de diversas seleções jovens nacionais, de 1993 a 2009, António Violante contribuiu para o primeiro troféu de Portugal num Europeu de sub-17, escalão substituto dos sub-16, que persistiu entre 1982 e 2001, ditando quatro êxitos lusos, em 1989, 1995, 1996 e 2000, e um segundo lugar, em 1988.

Um ‘bis’ de Márcio Sousa eternizou o êxito sobre a Espanha (2-1), em maio de 2003, em Viseu, na final da única edição cumprida pela equipa das ‘quinas’ na condição de anfitriã.

Se o então médio das camadas jovens do FC Porto nem sequer chegaria a competir na I Liga portuguesa, seis jogadores dessa geração de sub-17 viriam a representar a seleção principal, casos de Tiago Gomes, Miguel Veloso, Paulo Machado, Hélder Barbosa, João Moutinho e Vieirinha - os dois últimos conquistaram o Euro2016 de seniores, em França.

“Não é muito comum acontecer isto. Eu costumava dizer aos que chegavam às seleções nacionais pela primeira vez que tinham sido escolhidos entre cerca de 10.000 jogadores dos seus escalões e que, para estarem ali, é porque tinham valor. Agora, na melhor das hipóteses, só três ou quatro iriam um dia à seleção ‘AA’”, concluiu António Violante, que também alcançou o título de sub-16 em 2000 como técnico principal, sendo adjunto nos troféus continentais logrados nesse escalão em 1995 e 1996 e com os sub-18, em 1994.