Um momento. É tudo o que basta para marcar o nome na História e Éder tratou de garantir que inscrevia o seu na eternidade ao marcar o golo que permitiu a Portugal intitular-se campeão da Europa em 2016. Criticado por muitos, elogiado por poucos, o avançado provou que não é só o talento que conta, tendo brilhado quando mais importava e provado a importância do trabalho e da perseverança.
Mas quem é Éder?
Natural de Bissau, veio para Portugal com apenas três anos, o que não lhe deu muito tempo para criar memórias da terra natal. Aterrou em Lisboa, mas as poucas condições financeiras dos pais obrigaram-no a saltar de colégio em colégio, passando por Braga e Coimbra até estabilizar.
Começou a carreira no Adémia, uma pequena localidade de Coimbra, em 1999, e foi por lá que fez toda a formação até chegar a sénior. Na época seguinte dividiu a sua presença entre Oliveira do Hospital e Tourizense, subindo da antiga III Divisão para a II Divisão Nacional e foi aí que se começou a mostrar ao mundo do futebol.
Na primeira época completa pela equipa de Tábua marcou 10 golos, o que mereceu a atenção da Académica clube pelo qual faturou 19 vezes nas quatro temporadas seguintes, conquistando ainda uma Taça de Portugal, em 2011/12. Os números não eram avassaladores, mas foram suficientes para o SC Braga decidir avançar para a contratação de Éder, diminutivo de Éderzito (curioso, certo?).
O crescimento em Braga, onde somou 34 golos distribuídos por três épocas, bastou para ter uma oportunidade na Seleção Nacional, carente de um ponta de lança de raiz capaz de trazer golos com consistência, e valeu um passaporte para o Brasil, onde representou Portugal no Mundial 2014.
No entanto, o estrangeiro era mesmo o mais apelativo e começou a sua aventura em Inglaterra, tendo representado o Swansea, embora sem grande impacto, como provam os zero golos marcados. Aliás, a prova de que não foi feliz é que só durou meia temporada, acabando emprestado ao Lille, na época 2015/16 (que doce ironia).
O golo mais importante da vida de Éder
No entanto, nem Éder sabia o quanto ia ser feliz em julho de 2016. Fernando Santos deu-lhe um voto de confiança e o avançado assumiu um papel de 'joker' no Campeonato da Europa, sendo visto sempre como uma opção de recurso. Acabou por ser utilizado apenas em três partidas, entrando nos dois primeiros encontros e depois só voltou a ser chamado na final.
Quando o selecionador nacional o indicou para entrar aos 79 minutos do duelo com a França, o avançado não fazia ideia do que viria a seguir, embora tivesse a crença de que era possível ter um papel importante. Foi já no prolongamento, e após os franceses terem tido várias oportunidades para inaugurar o marcador, ora seguradas por São Patrício, ora salvas pelo poste, Éder sentiu uma inspiração divina e disparou um remate rasteiro do meio da rua, que surpreendeu Lloris e deixou Portugal em êxtase.
Tornou-se um herói nacional, mas a desfeita tornou inviável a permanência em França, como percebeu no ano a seguir, em que jogou no Lille mas ia recebendo vaias constantes, onde quer que fosse jogar e despertasse a memória de julho. Ainda jogou quatro temporadas no Lokomotiv Moscovo, tendo terminado a carreira na procura dos milhões, no Al Raed da Arábia Saudita.
Sem ser impressionante, esta foi a carreira do jogador mais 'clutch' (termo usado no basquetebol americano para momentos decisivos) da história do futebol português. Após pendurar as botas, em 2021/22, não quis ser treinador nem dirigente, tendo-se tornado embaixador da FPF.
Um verdadeiro conto de fadas, em que o 'patinho feio' se tornou um belo cisne e mudou a forma como as pessoas o viam, alterando ao mesmo tempo a maneira como o Mundo encarava Portugal.
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