Gilberto Madail, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) de 1996 a 2011, sente-se "orgulhoso" por ter ficado para a história com um dos 'rostos' do Euro2004, competição que Portugal organizou há 20 anos.
“Naturalmente que me deixa orgulhoso que as pessoas me associem ao Euro2004, porque trabalhei muito, e passei por muitas situações complicadas, para que o Euro 2004 viesse para Portugal”, disse Madail, em entrevista à agência Lusa.
A prova decorreu de 12 de junho a 4 de julho de 2004, mas o processo começou muito antes e passou de sonho a realidade em 12 de outubro de 1999, em Aachen, na Alemanha, quando a UEFA anunciou que seria Portugal o organizador.
“Todos os que estávamos lá, nomeadamente membros do Governo, como o engenheiro [José] Sócrates, sentimos uma alegria muito grande em termos conseguido ultrapassar a poderosíssima Espanha e também a candidatura austro-húngara, que era muito forte. Para nós, foi um motivo de honra, tanto mais que era a primeira vez que a UEFA entregava a um pequeno país a organização deste evento tão grande”, recordou o ex-presidente da FPF, hoje com 79 anos.
Para Madail, não há dúvidas sobre quem foi o grande responsável por o Euro2004 ter vindo para Portugal.
“(O grande responsável?) Penso que foi a Federação. A Federação é que votou, que apresentou a candidatura, que contactou com outras federações, no sentido de demonstrar a bondade e as vantagens da nossa candidatura, para que na altura da votação pudesse haver uma votação favorável ao nosso país”, frisou.
O ex-líder federativo reconheceu, porém, que houve a “colaboração de todas as entidades, governamentais, e não governamentais” e, claro, “do ‘mundo’ do futebol”.
“Ao princípio, pouca gente acreditava e, mesmo na Europa, as nossas congéneres também não acreditavam na capacidade de um pequeno país como o nosso poder organizar um evento daquela magnitude”, explicou Madail, acrescentando que “foi preciso muito trabalho, em várias áreas, para demover as pessoas que não acreditavam e levá-las a acreditar” na candidatura lusa.
Foram percorridos muitos quilómetros: “Foi penoso, foram realmente muitas viagens que eu fiz, percorrendo grande parte da Europa e do leste europeu, para convencer quem votava, os países que votavam, sobre a bondade da candidatura portuguesa”.
“E tínhamos sempre à frente uma outra candidatura que era a espanhola, que já impunha respeito, porque era um grande país. Foi difícil nós convencermos também que éramos capazes de ter melhores, ou tão bons argumentos, do que a Espanha para realizar o Europeu”, disse à Lusa.
Foi preciso esperar quase até ao anuncio para ter a certeza de que o Euro2004 viria mesmo para Portugal.
“[Só comecei a acreditar] No dia da votação em Aachen. Curiosamente, esse era o dia de Espanha e os espanhóis tinham montado um círculo com várias carrinhas, a dizer Euro2004 em Espanha, e nós ficámos ali a assistir, mas, por informações que tínhamos, começámos a acreditar que era possível”, recordou Madail, admitindo, porém, que “só soube mesmo no momento em que o presidente da UEFA anunciou Portugal como o país organizador”.
Foi uma vitória especial, mais ainda pela forte oposição da Espanha: “Naturalmente, temos sempre gosto em vencer os espanhóis, mesmo que seja numa candidatura”.
“Tivemos orgulho por sermos o primeiro pequeno país a organizar um Campeonato da Europa, que a UEFA tinha dúvidas em entregar. Por isso, para nós foi uma questão de grande prestígio ir para Portugal e organizarmos um Campeonato da Europa, que vejo ainda hoje, passados 20 anos, e falando com pessoas da UEFA, como o melhor Campeonato da Europa jamais realizado”.
Do anúncio até à competição propriamente dita foi, porém, um longo percurso, que não foi fácil.
“Foi muito desgastante. Os estádios, por exemplo, uns a avançar, outros a recuar, uns a dizer que desistiam, outros a dizer que continuavam. De facto, foi um processo longo e desgastante, e tudo aquilo que teve de se fazer à volta, os acordos com as unidades hoteleiras, por causa do aumento de preços, os acordos com as entidades governamentais. Portanto, foi um processo difícil e longo até à realização”, relembrou.
As dificuldades nunca chegaram ao ponto de fazer Gilberto Madail duvidar da capacidade de Portugal em organizar um grande Campeonato da Europa.
“Não. Nunca duvidei, porque tínhamos a determinação para o fazer, estávamos determinados em fazer, como disse, o melhor Europeu de sempre. Ainda hoje é referido como um farol em termos de organização, daquilo que foi o contacto e a recetividade dos portugueses, a questão das bandeiras nas janelas, toda aquela alegria, toda aquela motivação, ainda hoje é sublinhado como um grande exemplo para um torneio”, finalizou.
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