O governo argentino pediu desculpas à França pelos comentários da vice-presidente Victoria Villarruel, que chamou Paris de "colonialista" e os franceses de "hipócritas" após a polémica sobre uma canção ofensiva cantada por futebolistas da seleção argentina.

Karina Milei, secretária da Presidência e irmã do presidente Javier Milei, foi na quinta-feira à embaixada da França em Buenos Aires "para explicar que o infeliz comentário feito nas redes sociais era pessoal", revelou hoje em conferência de imprensa o porta-voz da presidência, Manuel Adorni.

"Não é posição do governo misturar paixões desportivas e questões diplomáticas", destacou.

Na quarta-feira, Victoria Villarruel publicou nas redes sociais um comentário sobre um vídeo divulgado com cânticos entoados pelos jogadores da seleção argentina, depois da conquista da Copa América, no domingo, que aludem à proveniência africana dos futebolistas franceses e também a um comentário transfóbico sobre um alegado relacionamento de Kylian Mbappé.

"Nenhum país colonialista nos vai intimidar por um cântico de futebol ou por dizer as verdades que não quer admitir. Chega de fingir indignação, Enzo [Fernández], eu apoio-te”, escreveu o vice-presidente.

Toda a situação surge num momento em que o presidente argentino Milei é esperado em Paris, a convite do governo francês para a abertura dos Jogos Olímpicos Paris2024, com o porta-voz presidencial a garantir que "as relações diplomáticas com a França estão intactas".

Na terça-feira, a Federação Francesa de Futebol (FFF) "condenou com a maior firmeza" as "observações ofensivas de natureza racial e discriminatória" e revelou ter feito queixa à FIFA, entidade que regula o futebol mundial, e também à Justiça.

Em reação, a FIFA vincou que "condena veementemente qualquer forma de discriminação por parte de qualquer pessoa, incluindo jogadores, adeptos e dirigentes" e disse que está a examinar os comentários feitos pelos jogadores argentinos durante os festejos após a conquista da Copa América (contra a Colômbia, por 1-0).

Já a ministra do Desporto francesa, Amélie Oudéa-Castéra, qualificou de "patéticos" os cânticos contra os futebolistas franceses que são ouvidos num vídeo publicado no perfil do médio argentino Enzo Fernández (ex-Benfica), que atua nos ingleses do Chelsea.

Diante da escala das reações, Enzo Fernández pediu desculpas "sinceramente" na terça-feira através da sua conta do Instagram, mas o seu clube, o Chelsea, iniciou "processos disciplinares" contra ele.

Na Argentina, o episódio causou diferentes ondas de choque. O governo demitiu o vice-secretário de Estado do Desporto, Julio Garro, depois de o responsável ter exigido que o capitão argentino Lionel Messi e o presidente da federação 'albiceleste' pedissem desculpas.

A recente rivalidade futebolística entre França e Argentina nasceu no Mundial de 2018, na Rússia, quando os 'bleus' eliminaram a Argentina, por 4-3, nos oitavos de final, graças, em grande parte, a uma atuação de grande nível de Mbappé (hoje apresentado no Real Madrid), que, então com 19 anos, apontou dois golos.

E intensificou-se a tensão depois de a seleção sul-americana ter vencido o Campeonato do Mundo de 2022, no Qatar, batendo na final precisamente os gauleses, no desempate nas grandes penalidades, após um empate 3-3.

De resto, a música que se ouve no recente vídeo feito no autocarro da seleção argentina foi popularizada por alguns adeptos ‘albicelestes’ durante o Mundial2022.