O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, disse hoje que a França está preparada para receber os adeptos que “cheguem de carro, avião ou comboio” para assistir ao Europeu de futebol, apesar da agitação social que se vive no país.
Numa entrevista a vários meios de comunicação internacionais, o chefe do Governo francês dirigiu-se aos milhares de pessoas que tinham previsto assistir ao Campeonato Europeu de Futebol, que começa no dia 10 de junho.
“Somamos o terrorismo às greves e as pessoas leem nos jornais que ‘isto está um caos e que já não se pode vir a França, que não se pode circular nem viajar’”, ironizou Manuel Valls, acrescentando que quer demonstrar que um país “ameaçado pelo terrorismo e com agitação social” é capaz de encontrar soluções.
Para o primeiro-ministro francês, “não tem fundamento” o alerta emitido pelos Estados Unidos, que desaconselham os cidadãos norte-americanos a deslocarem-se aos grandes acontecimentos em curso na Europa e especialmente em França.
“A mensagem é clara: pode-se vir para a França de carro, de avião e espero que de comboio. Não quero mentir porque ainda não concluímos o acordo com a SNCF [a companhia estatal], mas não vou ceder na reforma laboral só porque há uma ameaça de greve dos caminhos-de- ferro”, afirmou Valls.
A pressão sindical da CGT contra a reforma do código de trabalho levou a paralisações em vários setores de atividade, sobretudo nos transportes, além das manifestações diárias.
O primeiro-ministro assegurou que os pilotos da Air France comprometeram-se a não fazerem greve durante o campeonato.
“Se houvesse greve da Air France eu seria intransigente e penso que a opinião pública não aceitaria uma paralisação num período tão importante”, disse o chefe de Estado, sublinhando que os problemas relacionados com o abastecimento de combustível "estão quase" resolvidos.
“Há pelo menos quatro por cento de postos de gasolina fechados, num total de quase 12 mil gasolineiras. No passado fim de semana, o problema não foi o abastecimento, mas sim o consumo de 200 ou 300 por cento de gasolina, porque os franceses recearam a possibilidade de escassez”, explicou.
Sobre o terrorismo provocado pelo grupo extremista Estado Islâmico, o primeiro-ministro recordou que o país já organizou “com êxito” a Conferência sobe o Clima no passado mês de dezembro, poucas semanas após os atentados em Paris, que provocaram 130 mortos.
Mesmo assim, Valls disse que “cem mil pessoas” vão estar envolvidas na segurança dos visitantes, entre as quais 77 mil polícias e 12 mil agentes de empresas de segurança privadas, além de dez mil militares.
Valls reconheceu, no entanto, que a “acumulação de missões” das forças de segurança são um motivo de preocupação para o Governo.
“Há 51 jogos em dez estádios de futebol que estão sob a segurança das autoridades. Há também a Volta a França em Bicicleta que é um grande acontecimento. Nunca se pode dizer nunca, mas se houver uma ameaça precisa, o ministro do Interior tem todos os meios para tomar as decisões necessárias”, adiantou.
Para a França, “é muito importante que num período de ameaças dizer que a vida continua”, acrescentou.
Manuel Valls disse também que, apesar das ameaças, vários líderes políticos europeus já confirmaram a presença.
“A força da democracia é fazer frente [à ameaça]. Na altura do terrorismo basco, os jogos de futebol não foram anulados. Não se cancelou o Mundial de Espanha em 1982, nem os Jogos Olímpicos de Barcelona de 1992”, disse Valls, referindo-se à atividade da ETA, em Espanha.
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