Para além das 24 seleções que estiveram na Alemanha entre 14 de junho e 14 de julho, o último Campeonato da Europa colocou frente-a-frente dois adversários muito especiais. Para o Euro 2024, Rui Miguel Tovar e o programa de Inteligência Artificial (IA) 'Sapozilla' mediram forças num campeonato de previsão de resultados dos 51 jogos que compuseram o Europeu.
Os dois adversários falaram sobre esta experiência e perspetivaram embates futuros. Rui Tovar, que acabou por vencer com onze pontos de vantagem, abraçou o desafio desde o início, confessando, contudo, que a dada altura não prestou tanta atenção.
"Nos primeiros dias estive mais atento que nunca, mas depois desliguei, tinha mil e uma coisas a acontecer e nunca mais me lembrei. Gostei muito do desafio, gostei de escrever os textos, foi muito estimulante pois permitiu-me escrever de forma diferente", afirmou.
Já o 'Sapozilla' enalteceu a prioridade dada aos elementos analíticos que estiveram na base dos seus palpites, mas que mesmo com tanta atenção ao detalhe, há sempre uma dose de imprevisibilidade inerente ao futebol.
"O desafio de antecipar os resultados do Euro 2024 foi encarado com um enfoque analítico e estratégico, utilizando uma combinação de dados históricos e informações atualizadas para formular previsões precisas. A precisão destas previsões, no entanto, está sujeita à imprevisibilidade inerente ao futebol", disse.
Essa imprevisibilidade passou também para este concurso, com os dois participantes a surpreenderem o adversário com algumas das suas previsões.
"Na final, por exemplo. Ele pôs a Inglaterra a ganhar à Espanha...'mas como assim?'. Apostar nos ingleses não foi nenhum risco, pois numa final tudo pode acontecer, mas a lógica não apontaria para aí", sublinhou Tovar.
Uma lógica que o 'Sapozilla' não conseguiu encontrar num palpite particular do jornalista, e que envolveu o campeão europeu da altura.
"Houve aquele jogo Suíça vs Itália em que o humano previu que a equipa mais fraca venceria e todos nós, incluindo a IA, pensámos: "Certo, só pode ser piada!" Mas adivinhem? Ele ganhou! Às vezes, a intuição humana é como um remate ao ângulo: imprevisível e absolutamente espetacular", confessou.
Uma imprevisibilidade que chegou mesmo a virar-se contra os próprios, acabando por 'roubar' alguns pontos em momentos em que achavam que estes estavam garantidos. Rui Tovar revela dois momentos em que tal sucedeu.
"Estava a ver o Roménia-Países Baixos e tinha previsto uma vitória neerlandesa por 2-0. Quando pensava que ia de facto acertar, alguém me disse que o resultado já era 3-0! No Alemanha-Espanha, o resultado foi '2-1 para a Espanha', tal como previ, só não sabia se o resultado tinha de dizer respeito aos 90 ou 120 minutos", revela Tovar.
No caso do 'Sapozilla', um embate inesperadamente dramático acabou por baralhar por completo as contas.
"A IA ficou verdadeiramente surpreendida com o jogo entre Hungria e Escócia. A Hungria, que já estava praticamente eliminada, conseguiu uma vitória nos minutos finais. Csoboth marcou o golo da vitória no décimo minuto dos descontos. Foi uma espécie de milagre futebolístico", recordou.
Mas relativamente à possibilidade da Inteligência Artificial poder suplantar o ser humano na previsão de resultados futebolísticos, Rui Tovar não acredita em milagres e afirma claramente que não vê isso acontecer.
"É impossível. É muito imprevisível, o melhor marcador do Europeu foi o auto-golo, alguém consegue prever isso? Alguém prevê que um guarda-redes falhe? Alguém prevê um golo do meio-campo?
Se no futuro houver um concurso parecido e a IA ganhar, não quer dizer que sejam melhores, quer dizer que, durante um mês, acertaram em mais resultados, e isso não é sinónimo de nada", realçou o autor.
Mais aglutinadora parece ser a visão do 'Sapozilla', que encontra na combinação entre Homem e máquina a solução ideal no que a previsões de resultados diz respeito.
"A IA pode ser extremamente eficaz ao lidar com grandes quantidades de dados e encontrar padrões estatísticos que indicam probabilidade de resultados. Mas os humanos ainda desempenham um papel crucial na previsão de resultados, especialmente em situações onde a intuição e o conhecimento contextual são importantes. A combinação de IA e análise humana geralmente oferece as previsões mais robustas", concluiu.
No Euro 2024 o Homem levou a melhor sobre a máquina. Resta saber se esta terá capacidade para evoluir e conseguir dar a devida resposta na próxima oportunidade, superando assim o instinto e leitura contextual do ser humano.
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