O partido recebeu na Assembleia da República representantes do movimento ‘Futebol Sem Género’, a propósito da polémica sobre a criação de um limite orçamental de 550 mil euros para os clubes da primeira divisão no regulamento da liga de futebol feminino 2020/21, uma norma entretanto retirada pela FPF da proposta final. E foi na sequência deste encontro que os ‘bloquistas’ deixaram um alerta para a dualidade de tratamento por parte da entidade federativa.

“Não estamos a falar de pequenos clubes amadores, estamos a falar dos principais emblemas nacionais, em que a sua ligação é altamente informal e precária: falsos recibos verdes ou pagamento de salários através de subsídios. Das atletas que jogam na primeira divisão do futebol feminino em Portugal, apenas 70 têm realmente um contrato estável com os seus clubes, todas as outras têm uma ligação altamente informal”, disse o deputado ‘bloquista’ Luís Monteiro.

Segundo o membro da comissão parlamentar de Educação, Ciência, Juventude e Desporto, a vulnerabilidade destes vínculos laborais abre “a possibilidade de pressões dos clubes, dos agentes e da Federação” sobre as jogadoras. Nesse sentido, desviou o foco da questão do teto salarial para o aspeto da precariedade profissional das jogadoras.

“Se os clubes e a Federação acreditam que a participação das mulheres no desporto deve ser uma marca distintiva do nosso país, então não podemos continuar a admitir que a FPF faça campanhas de propaganda pela igualdade de género e depois trate de uma forma completamente miserável - e de uma forma oposta àquilo que é a realidade masculina – a realidade feminina”, defendeu.

Luís Monteiro acusou ainda a FPF de estar a aproveitar a atual pandemia de COVID-19 como “uma desculpa esfarrapada” para justificar a tentativa de introdução do limite orçamental para os clubes da primeira divisão de futebol feminino.

“As informações que o BE tem é que a questão do teto salarial estava a ser negociada desde janeiro com alguns clubes, muito antes de existir pandemia, confinamento e proibição da realização de eventos desportivos. Esta questão é prévia à COVID-19, não é essa a razão em cima da mesa”, atirou, acrescentando: “Queremos abrir um debate sobre a responsabilidade social dos clubes, das SAD e da FPF no investimento nas modalidades femininas e na participação das mulheres no desporto”.

Por outro lado, o deputado do BE refutou a argumentação da defesa de uma maior competitividade na liga feminina, por não se ter avançado com uma ideia semelhante para o futebol masculino.

“Nunca se pôs em causa diminuição de investimento no futebol profissional masculino. Por que razão? É justamente aquele que apresenta maior défice neste momento, fruto da grandeza que representa. Não há razão nenhuma para o debate estar inquinado à partida, assumindo que o futebol feminino tem X dinheiro investido e que passando de 12 para 20 clubes tem de ser repartido. O que precisamos é de mais investimento no futebol feminino”, sentenciou.

A proposta em causa constava no regulamento do campeonato de 2020/21, no artigo 93, ponto 1: “Face às circunstâncias excecionais decorrentes da pandemia COVID-19 e à necessidade de garantir o equilíbrio dos clubes e a estabilidade da competição, é estabelecido o limite máximo de 550 mil euros para a massa salarial das jogadoras inscritas na temporada 2020/21. Entende-se por massa salarial do plantel a soma dos salários e/ou subsídios declarados no contrato de cada jogadora.”

As jogadoras de futebol feminino em Portugal criaram o movimento 'Futebol Sem Género' contra o limite salarial de 550 mil euros que a FPF estabeleceu aos planteis do principal escalão, que acusavam de ser "discriminatório".

O campeonato feminino de futebol terá mais oito equipas na próxima época, de 2020/21, passando de 12 para 20 clubes, informou em 06 de maio a FPF.