A Seleção feminina de Espanha concentrou-se na manhã desta terça-feira em dois locais distintos, antes de iniciarem a participação na Liga das Nações de futebol que dá acesso aos Jogos Olímpicos de 2024.

Em Espanha a notícia é a convocação de várias jogadoras que se tinham renunciado à seleção até à restruturação do organigrama do futebol feminino e de outros departamentos da Federação Espanhola.

Quase todas as campeãs do Mundo pediram para não serem convocadas até que haja melhorias na federação que vão ao encontro das suas pretensões, mas acabaram por ser chamadas por Montse Tomé. A nova selecionadora incluiu 15 campeãs do Mundo - após 21 das 23 terem renunciado - na lista de convocadas.

As futebolistas internacionais reafirmaram, em comunicado, a sua "vontade de não ser convocadas por motivos justificados" para a seleção, declinando assim a chamada de Montse Tomé, que deixou fora das eleitas Jenni Hermoso.

A selecionadora justificou a ausência da jogadora que esteve no centro da polémica iniciada com o beijo do então presidente federativo, Luis Rubiales, com a necessidade de “proteger do ruído mediático” a capitã da equipa que conquistou o Mundial.

Hermoso, que já se juntou à sua equipa no México, respondeu entretanto à selecionadora, questionando: “Querem proteger-me de quê, ou de quem?”.

Governo obrigado a intervir

No plano político, o ministro da Cultura e do Desporto, Miguel Iceta, garantiu que o governo “não vai ser um espetador passivo” no conflito que opõe as jogadoras à Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), e assegurou que o presidente do Conselho Superior do Desporto (CSD) vai envolver-se pessoalmente no diferendo.

“A RFEF está a fazer muitas coisas mal, creio que isso é claro, creio que a convocatória é anómala e que é preciso corrigir os erros, se quisermos, de verdade, recuperar a senda de êxitos que teve o seu maior momento em Sydney”, afirmou o ministro.

O presidente do Conselho Superior do Desporto espanhol, Víctor Francos, aconselhou as jogadoras a comparecerem aos estágios, explicando-lhes depois que, caso não cumpram a chamada, a lei será aplicada, independentemente do seu apoio às campeãs do mundo.

E se recusarem a chamada?

Obrigadas a comparecer, mesmo contra a sua vontade, discute-se neste momento no país vizinho as consequências de uma resposta negativa à uma convocação oficial. A lei espanhola prevê coimas pesadas e penas duras para um atleta que recuse representar o país. As coimas podem ir de 3.000 e 30.000 euros para quem não apresente uma justificação válida por ausência de uma convocatória oficial.

Além da pesada multa, o atleta ou a atleta poderá ter ainda a sua licença federativa suspensa entre dois e cinco anos, de acordo com o Real Decreto de 1992. Nos próximos tempos esta sanção passará a ser entre dois a 15 anos, no entanto, o Governo ainda não deu seguimento ao regime disciplinar da Lei do Desporto de 2022.

A lei especifica que a gravidade da sanção depende do grau de culpabilidade ou existência de golo, a continuidade ou persistencia da conduta infatura, da natureza dos prejuizos causados e ainda a reincidência.

As jogadoras espanholas alegam que a convocatória não respeitou as regras da FIFA, pelo que a mesma não é válida, logo, elas não estão obrigadas a comparecer.

De recordar que uma federação deverá notificar a FIFA e, ao mesmo tempo, o jogador ou jogadora convocado/convocada pelo menos 15 dias antes do inicio da janela de seleções, de acordo com o artigo 3.2 do Anexo I do Regulamento do Estatuto e Transferência de Jogadores da FIFA.

Concentração em Valência

A seleção espanhola vai concentrar-se Oliva, Valência, para preparar a campanha da Liga das Nações, que apura para os Jogos Olímpicos Paris2024, frente à Suécia, em Gotemburgo, na quarta-feira, recebendo depois, em 26 de setembro, a Suíça, em Córdoba.

Desde a conquista do título mundial, em 20 de agosto passado, que a seleção espanhola vive momentos conturbados, criados pelo beijo na boca que o então presidente da RFEF, Luis Rubiales, deu à jogadora Jenni Hermoso, durante as celebrações da vitória no estádio de Sydney.

Jeni Hermoso disse que o beijo não foi consentido, ao contrário do que afirma Rubiales que, entretanto, está a ser alvo de processos disciplinares pelo Tribunal Administrativo do Desporto de Espanha e por parte da FIFA.

A jogadora apresentou, por seu turno, uma queixa na justiça por agressão sexual de Rubiales, que inicialmente recusou demitir-se, mas que acabou por se demitir do cargo.

Logo nos dias posteriores à final do Mundial, mais de 80 futebolistas espanholas divulgaram um comunicado de solidariedade com Jenni Hermoso e anunciaram que recusavam jogar na seleção nacional de Espanha se não houvesse mudanças na federação.

Além da saída de Rubiales, a federação demitiu o treinador da seleção feminina, Jorge Vilda, e substituiu-o por Montsé Tomé, que era a 'número dois' do selecionador.