Trinta e nove jogadoras, incluindo 21 das 23 campeãs mundiais, exigiram hoje à Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) a reestruturação do futebol feminino e garantiram que as alterações introduzidas "não são suficientes” para se sentirem seguras.

Esta posição surge na sequência do beijo na boca que o então presidente da RFEF, Luis Rubiales, deu à jogadora Jenni Hermoso, durante as celebrações da conquista do título mundial feminino de futebol, no estádio de Sydney, na Austrália.

Em comunicado, as jogadoras pedem a reestruturação do futebol feminino e do gabinete presidencial e do secretário-geral, a demissão do presidente da RFEF, cargo agora ocupado interinamente por Pedro Rocha, e a reestruturação da área de comunicação e marketing, bem como da gestão de integridade.

“Como transmitimos à RFEF, as mudanças ocorridas não são suficientes para que as jogadoras se sintam num lugar seguro onde sejam respeitadas, estamos comprometidas com um futebol feminino onde possamos dar o nosso máximo desempenho”, afirmam.

Na sequência do comunicado, a RFEF adiou o anúncio da primeira convocatória de Montse Tomé, que assumiu o cargo de selecionadora após a demissão de Jorge Vilda, em 05 de setembro, para os jogos da Liga das Nações, que estava marcada para esta tarde.

As jogadoras sublinham que são “profissionais” e o que mais as enche de orgulho é vestir a camisola da seleção e dizem “que é hora de lutar para mostrar que estas situações e práticas não têm lugar no nosso futebol nem na nossa sociedade”.

As subscritoras do documento, das campeãs mundiais apenas Athenea del Castillo e Claudia Zornoza não assinaram, reiteram o “seu enorme descontentamento” pelo ocorrido na cerimónia de medalhas do Mundial e defendem que, perante estes atos, se deve ter “tolerância zero”.

Jeni Hermoso disse que o beijo não foi consentido, ao contrário do que afirma Luis Rubiales, que inicialmente recusou demitir-se, mas que acabou por se demitir do cargo, e apresentou uma queixa na justiça por agressão sexual e coação.

O comportamento de Rubiales valeu-lhe a abertura de processos disciplinares pelo Tribunal Administrativo do Desporto de Espanha e por parte da FIFA, que o suspendeu do cargo durante 90 dias.

Logo nos dias posteriores à final do mundial, mais de 80 futebolistas espanholas divulgaram um comunicado de solidariedade com Jenni Hermoso e anunciaram que recusavam jogar na seleção nacional de Espanha se não houvesse mudanças na federação.

Além da saída de Luis Rubiales, a federação espanhola demitiu o treinador da seleção feminina, Jorge Vilda, e substituiu-o por Montsé Tomé, que era a 'número dois' do selecionador.

As signatárias do comunicado são Ivana Andrés, María Isabel Rodríguez, Jana Fernández, Aitana Bonmatí, Oihane Hernández, Patricia Guijarro, Alba Redondo, Olga Carmona, Lola Gallardo, Alexia Putellas, Ona Batlle, Nerea Eizagirre, Cata Coll, Salma Paralluelo, Ainhoa Moraza, Enith Salón, Rocío Gálvez, Mapi León, Esther González, Teresa Abelleira, Sandra Paños, Irene Paredes, Elene Lete, Claudia Pina, Irene Guerrero, Fiamma Benítez, Amaiur Sarriegi, Jennifer Hermoso, Inma Gabarro, Leila Ouahabi, Laia Codina, Eva Navarro, Laia Aleixandri, María Pérez, Marta Cardona, Lucia García, Mariona Caldentey, Maite Oroz e Andrea Pereira.