Considerada a prova desportiva mais nacional de Angola, por ser disputada anualmente por equipas de distintas províncias, o Girabola mantém a sua regularidade não obstante as crises que têm assolado o país.
Quando em 1979 foi instituído, por despacho do então secretário de Estado da Educação Física e Desportos, Rui Mingas, certamente poucos estavam crentes na sua longevidade, pois havia quatro anos que não se disputava um campeonato do género.
A sua designação, porém, vem de anos anteriores, tendo sido atribuída, em 1967, pelo radialista Rui de Carvalho, para diferenciar o campeonato de futebol de Angola dos de outras então províncias ultra-marinas (como eram chamadas as colónias portuguesas - Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé)
Transcorridos 39 anos, mesmo sem a exuberância de outrora, o Girabola continua a afirmar-se como verdadeiro factor de unidade nacional e catalisador de valores e atitudes, como a tolerância, o respeito pela diferença, a inclusão e a solidariedade, bem ancorados nos princípios fundamentais do olimpismo moderno.
Em Angola, independente do local, é impossível ser-lhe indiferente, uma vez que a competição em si não se consubstancia nos muitos dias do girar da bola no relvado, mas, sim, nos ininterruptos momentos de convívio de pessoas das mais recônditas paragens, no manancial de possibilidades de investimento e na ampliação da exposição do país.
Mesmo tendo menos quatro anos que Angola independente, o Girabola tem caminhado, fielmente, em paralelo ao rumo do país: sofre as mesmas crises e usufruiu dos momentos áureos do país.
Um exemplo disso remonta da época 1993 e 1994. A prova viu-se privada de dois dos seus ilustres participantes da província do Huambo (Benfica e Petro), devido ao conflito armado. Já entre 2008 a 2014, período dourado da economia nacional, o Girabola alcançou “os píncaros” competitivos, fruto dos investimentos feitos pelos clubes.
Em vésperas do arranque da sua 39ª edição, os angolanos permanecem irmanados nos cânticos, preces e desejos resultantes do espectáculo proporcionado pelo Girabola, cujas equipas, desde as mais cotadas até as menos, inflamam sentimentos nos apaniguados do “desporto -rei”.
Um percurso perene
Goste-se ou não da qualidade do futebol angolano, há, contudo, unanimidade quanto à importância do Girabola enquanto manifestação desportiva que congrega os mais diversos sentimentos da população.
Ao longo do seu percurso, muitas vezes viu-se ameaçado, ora pelo conflito armado, ora pelas limitações financeiras; dois factores que, por pouco, aniquilariam a competição, por falta de equipas.
A história do Girabola mostra que esta prova permanece além do tempo e para lá da crise, pois, fruto da sagacidade dos seus dirigentes da época, conseguiu vencer as adversidades de um país cuja independência nacional redundou num conflito armado sem precedente.
Desde os tempos em que as equipas tinham de ser escoltadas pelo exército nas suas deslocações, período em que os jogadores mais valiosos assinavam contratos a troco de um electro-doméstico, e os prémios de jogo eram “pequenas” cestas básicas, a bola - mesmo em campos sem relva e sem bancadas -, esta sempre rolou.
No auge do conflito armado, entre 1996 a 2001, em províncias como Huambo, do Benfica e Petro, Bié, do Sporting, Moxico, do então 11 Bravos, Cuando-Cubango, do Chicoil FC, Malanje, do Cambondo, e Cuanza Sul, do ARA da Gabela, o Girabola chegou a representar a esperança e a alegria roubadas ao povo pelo troar dos canhões.
Desde a sua primeira edição, em 1979, os tempos mudaram, não haja dúvida. Mas a vontade dos angolanos em ver o girar da bola nos campos do país, esta ainda é a mesma de sempre, indubitavelmente.
De fundadores a ilustres esquecidos
A 8 de Dezembro de 1979 era dado o pontapé de saída do Girabola, com 24 equipas inscritas em representação das 17 províncias que o país tinha, já que a província do Bengo só viria a separar-se de Luanda um ano depois.
Tratou-se da prova com maior número de concorrentes e a mais nacional de todas, uma vez que as províncias, como nunca mais voltou a acontecer, tiveram o gozo de acolher os jogos do primeiro campeonato nacional no período pós-independência.
Em ano de estreia, as equipas foram agrupadas em séries de seis, formato que viria a ser alterado no ano seguinte, em que o número de agremiações caiu para 14, com a despromoção dos 10 últimos colocados do campeonato anterior.
As formações do 1º de Agosto, Nacional de Benguela, TAAG, Palancas do Huambo, Estrela Vermelha (Mambroa), FC do Uíge, Construtores do Uíge, Académica do Lobito, Desportivo da Chela, Ferroviário da Huíla, Diabos Verdes (Sporting de Luanda), Santa Rita de Moçamedes, Sassamba da Lunda Sul e Sagrada Esperança ocuparam, nesta ordem, os 14 primeiros lugares.
Os últimos 10 colocados foram Luta SC de Cabinda, FC Mbanza Congo, Ginásio do Kuando Kubango, Xangongo do Cunene, Naval do Porto Amboim, Diabos Negros, Makotas de Malanje, Vitória do Bié, Juventude do Kunje e 14 de Abril.
Alguns destes fundadores do Girabola passaram de ilustres a esquecidos, como são os casos do Nacional de Benguela, vice-campeão em 1979, e Benfica do Huambo, vice-campeão em 1980, 1981 e 1984.
A lista de esquecidos é extensa, podendo nela ser incluído o Desportivo da Chela, 3º em 1985, Ferroviário da Huíla, 3º em 1986 e 2º em 1988, Desportivo da Eka, 3º em 1993, Independente do Tombwa, 3º em 1994, Atlético do Namibe, 3º em 1997, Petro do Huambo, 3º em 1987, 2000, 2001 e 2003 e Benfica de Luanda, 3º em 2009.
Destas equipas, o Ferroviário da Huila (1991), Desportivo da Eka (1996) e o Benfica do Huambo (1997) são as que mais anos estão fora do convívio dos grandes do futebol nacional, enquanto as com menos tempo de ausência são Benfica de Luanda (2016), Atlético do Namibe (2013) e Nacional de Benguela (2012).
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