Atribuir a Zvonimir Boban as culpas pelo início da guerra nos Balcãs é um exercício muitas vezes feita. E quase sempre injusta. Um homem, sozinho, não consegue despoletar um conflito de tamanha envergadura. Mas sempre pode dar uma ‘ajuda’. E foi o que aconteceu com esta antiga estrela da seleção da Croácia e do AC Milan.

Boban integrou a melhor geração de futebolistas croatas, tendo conseguido levado a sua seleção ao terceiro lugar no Mundial1998, em França. Antes de lá chegar, defendeu as cores da Jugoslávia, antes de ter dado o pontapé no início do desmembramento do território jugoslavo.

Recuemos até 13 de maio de 1990, em pleno clima de tensão nos Balcãs. O jovem Boban, já capitão do Dinamo Zagreb, defrontava o Estrela Vermelha de Belgrado, num jogo aproveitado pelos croatas para pedirem a independência. Num ambiente quente, Boban viu um polícia a prender um adepto do Dínamo. Não gostou dos modos e agrediu o agente da autoridade com um pontapé, gerando uma enorme confusão. Muitos atribuem a este gesto o início da queda da Jugoslávia. Boban recorda com foi-

"Não fui eu sozinho. Muita gente identifica esse momento histórico da Croácia comigo e isso não é correto. Eu fui um de três mil, cinco mil jovens que fizeram o mesmo. Mas eu era o número 10, a estrela, o capitão do Dínamo Zagreb. Eu não fiz nada mais do que os outros. Foi uma rebelião popular depois de termos vivido num regime muito pesado, um inferno. Isto sim. Era uma vontade de liberdade", contou, em entrevista ao 'Globoesporte' do Brasil.

Este "pontapé que iniciou uma guerra" valeu-lhe uma suspensão pela Federação de Futebol da antiga Jugoslávia, retirando assim a Boban a hipótese de marcar presença no Mundial de 1990. Na Croácia, passou a ser visto como um herói.

Na entrevista ao site brasileiro, Boban elogiou Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar e recordou a seleção croata de 1998, que terminou em 3.º lugar o Mundial de 1998, ganha pela França por 3-0 frente ao Brasil. Essa final poderia ter sido disputada entre croatas e brasileiros. Mas um erro de Boban 'deitou tudo por terra'.

"A melhor [lembrança do Mundia1998] logicamente foi quando ficamos em terceiro lugar. E é também a pior porque fui eu que cometi o erro enorme [contra a França] que deu o empate [na semifinal]. A França empatou um minuto depois do nosso gol. Estava a gritar com todos a pedir concentração, como capitão, e fui eu que fiz o erro que gerou o empate. E eles ganharam-nos por 2-1. Fiquei quatro dias sem comer, beber, dormir... depois voltei ao campo, vencemos a Holanda por 2-1 e ganhamos a medalha de bronze", recordou o craque, 19 anos depois.

Atulamente, Boban é colaborador da FIFA.

*Artigo corrigido.