O português David Patrício, o treinador mais jovem da Superliga da China, fez à Lusa um balanço positivo da época do Nantong Zhiyun, que conseguiu a manutenção no escalão principal do futebol chinês.

“Foi uma época extremamente positiva, considerando que o orçamento do clube era bastante inferior aos dos demais, e os objetivos propostos no início do primeiro ano na Superliga”, disse Patrício.

O Nantong, clube do leste da China que tinha subido esta temporada, só conseguiu a manutenção na 30.ª e última jornada, apesar de uma derrota em casa, por 1-2, frente ao Tianjin Jinmen Tiger, no domingo.

O Nantong acabou no 14.º lugar, o primeiro acima da ‘linha de água’, com 22 pontos, mais dois do que o rival Dalian Pro, que perdeu com o já campeão Shanghai Port, do avançado luso-angolano Lucas João.

“Do ponto de vista desportivo, foi difícil, não há dúvida. Foi disputada até ao último segundo da Superliga, sempre com uma incerteza muito grande, ali com a corda no pescoço”, admitiu David Patrício.

O português tornou-se aos 38 anos o treinador mais jovem da Superliga quando foi nomeado, no final de janeiro, para liderar a equipa do Nantong, clube ao qual chegou em 2019 e onde era diretor técnico.

A pandemia desferiu um rude golpe no futebol chinês, com os clubes a passarem três anos a jogar em estádios vazios.

Com o alívio das medidas da política 'zero covid', o Nantong atraiu em média 15 mil adeptos para um estádio com capacidade para 20 mil pessoas.

“Tínhamos muitos jogadores a competir pela primeira vez nesta liga, novamente com adeptos no estádio. Foi um impacto muito grande. No primeiro jogo, aos sete minutos estávamos a perder 2-0 e os jogadores abanaram um pouquinho”, recordou Patrício.

Mas os resultados iniciais foram positivos e “começou-se a criar alguma expectativa”, disse o treinador.

“Cheguei a estar presente em reuniões com pessoas do governo [da cidade] de Nantong e já me perguntavam se o clube podia lutar pelo título”, revelou Patrício.

À oitava jornada a direção do clube decidiu substituir o português, que voltou à posição de diretor técnico, pelo antigo internacional espanhol Gabri.

“Fomos vítimas daquele sucesso inicial”, lamentou David Patrício.

Mas Gabri demitiu-se a 25 de setembro, após quatro derrotas consecutivas, e a direção pediu a David Patrício que voltasse a ser treinador.

“A equipa estava numa espiral negativa. Os jogadores animicamente não estavam bem, a confiança estava baixa, fisicamente a equipa estava completamente destruída”, recordou o português.

“Tinha tudo a perder e muito pouco a ganhar. Mas não conseguia virar as costas ao clube. Foi uma decisão mais com o coração do que com a razão”, admitiu Patrício.

Uma aposta de risco recompensada com a manutenção que “valoriza muito os atletas do clube, atletas locais e estrangeiros”, disse o treinador, dando como exemplo os cinco golos e quatro assistências do extremo luso-guineense Romário Baldé.

David Patrício disse que Baldé “superou todas as expectativas” e que o clube está em conversações para manter o jogador, formado no Benfica e que em Portugal também jogou no Tondela, na Académica e no Leixões.

Quanto ao futuro, o Nantong ainda não anunciou a permanência do treinador, mas Patrício diz que, “no dia seguinte” ao último jogo da temporada, já estava “a trabalhar para o futuro do clube”.

Outro treinador português, Ricardo Soares, levou o Beijing Guoan ao sexto lugar, com um plantel que contou com dez golos do avançado luso-angolano Fábio Abreu, contratado em julho.

O rival Shanghai Shenhua, do médio português João Carlos Teixeira, acabou na quinta posição, enquanto o Henan FC, do extremo luso-cabo-verdiano Hildeberto Pereira, ficou em 10.º lugar.