Júnior Moraes liderou a retirada dos brasileiros do Shakhtar Donestsk de Kiev, após a invasão da Rússia à Ucrânia. O brasileiro naturalizado ucraniano fez-se valer dos seus contactos para ajudar a tirar alguns conterrâneos do país. Missão que continua a executar, já que, como ucraniano maior de 18 anos e menos de 60, estava obrigado, por decreto presidencial, a permanecer no país para ajudar na defesa da pátria. No entanto, já não terá de o fazer. Já no Brasil, contou à imprensa local os momentos de incerteza que viveu juntamente com outros brasileiros, em Kiev.

"Não desejo a guerra a ninguém. Estou feliz por estar com a minha família, por abraçá-los. Desde o início só pensei nisso. Eu não nasci para entrar em zonas de confronto de guerra. Eu não sabia se ia conseguir sair ou não [...] Só pensei em ajudar a tirar o pessoal de lá. Havia muitos bebés, muitas criança, todos muito assustados. Tentava arranjar uma solução a toda a hora, uma saída, tentava encontrar leite para as crianças, fraldas. Para passar à minha família que estava bem, virava-me para uma parede, tirava uma fotografia, punha um sorriso e dizia: 'Ó, tá tudo ok'", contou o avançado aos jornalistas no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

A viver na Ucrânia há dez anos, Júnior Moraes, irmão de Bruno Moraes, antigo avançado do FC Porto e Rio Ave, está ainda a tentar ajudar outros brasileiros a deixar o país.

"Estão mais brasileiros lá, a guerra continua, estou a tentar fazer o máximo para tirar as pessoas de lá, as famílias ucranianas também precisam de ajuda. Como estou no país há quase dez anos, conheço muita gente e estou a tentar fazer o máximo para poder ajudar", recordou.

A guerra apanhou todos desprevenidos e Júnior Moraes não foi exceção. Durante dias, o avançado esteve retido num hotel, com outros brasileiros do Shakhtar e respetivas famílias, sem saber o que iria acontecer. O avançado de 33 anos garantiu que viveu momentos complicados.

"Eu não fui forte em nenhum momento. Em vários momentos, quando estava no limite, escondia-me na casa de banho ou trancava-me no quarto, orava, pedia força a Deus, porque não podia fazer isso na frente de ninguém", atirou.

Júnior Moraes, que já representou o Metalurh Donetsk e o Dínamo Kiev na Ucrânia, além do Shakhtar, doou 50 mil euros ao exército ucraniano. O avançado podia ser convocado para ir para a guerra e defender o país contra a invasão russa mas acabou por não ser chamado.