O futebol voltou à Ucrânia, seis meses após a invasão russa e oito meses depois do final da última época. O Shakhtar Donetsk e Metalist deram o início ao regresso do futebol, num momento emotivo Estádio Olímpico de Kiev, para a 1.ª ronda da prova.
No entanto, este não é o regresso sonhado por todos, já que no ar paira o medo de novos bombardeamentos das trocas russas, como se viu esta quarta-feira. O jogo entre Rukh Vynnyky e Metalist Kharkiv teve de ser interrompido perto do intervalo, depois de se ouvir os alarmes de um possível ataque russo. Ou seja, durou quatro horas e 27 minutos em vez dos 90 habituais.
Assim que soaram os alarmes, jogadores voltaram aos balneários, assim como os jornalistas presentes, que tiveram de procurar refúgio. O encontro começou às 13h de Lisboa e terminou já depois das 17h00, hora de Portugal continental).
O desafio disputado em Lviv foi interrompido por três vezes pelas sirenes de alarme de possível ataque russo, acabando somente às 19h27 locais (17h27 em Lisboa) - depois de ter tido início às 15h00 –, após cumpridos os protocolos de segurança, com as equipas a passarem um total de duas horas e 25 minutos num bunker.
No fim da maratona de futebol, o Metalist venceu, por 2-1, sem que se tivesse registado qualquer ataque.
Seguindo o protocolo de segurança vigente, os jogadores, equipas técnicas e de arbitragem devem recolher para um bunker subterrâneo após o aviso de possível ataque. Esta quarta-feira também não se jogou o Minaj-Lviv.
Apesar de estar localizada no oeste do país, perto da fronteira com a Polónia, Lviv tem sofrido violentos ataques aéreos nos últimos meses. Lviv é igualmente uma das localidades que mais refugiados internos acolheu desde a invasão da Rússia, em 24 de fevereiro.
Já ontem, após o pontapé de saída da Liga, Curro Galán, treinador de guarda-redes do Shakhtar, e Daniel de Castro, preparador físico da mesma equipa, contaram à rádio espanhol 'Cadena SER', como foi o regresso aos relvados na Ucrânia.
"É uma emoção muito grande. Quando falas com os jogadores notas isso, muitos deles ficam com os cabelos em pé quando conversamos antes do jogo. Dissemos [aos jogadores] que estavam há muitos meses sem poder competir, e que iam representar um país e as suas famílias. Não é fácil trabalhar assim, mas tentamos fazê-lo com a maior normalidade possível. Colocamos o GPS nos jogadores, mas há alguma interferência e às vezes não recebemos os dados. O importante é que possam jogar", contou Curro Galán.
Já Daniel de Castro falou dos sistemas de segurança agora presentes, como a existência de bunkers nos estádios.
"Queremos é voltar ao normal dentro daquilo que estamos a viver. Em Kiev já há uma certa normalidade. É certo que quando vamos à cidade desportiva vemos os destroços da invasão russa e é algo que impressiona. Desde o primeiro momento em que a competição regressou, os estádios têm bunkers. Se a sirene tocar, temos de ir todos para os balneários. Se [a sirene] não durar mais de 15 minutos, podemos regressar. Se durar mais de uma hora, temos de encontrar outro horário [para o jogo]", atirou.
Antes do início do primeiro jogo da edição 2022/23 do campeonato, entre Shakhtar Donetsk e Metalist, em Kiev, que terminou sem golos, foram hasteadas bandeiras do país e entoado o hino ucraniano, ao mesmo tempo que os todos os jogadores presentes no relvado surgiram envolvidos em bandeiras da Ucrânia.
Sem quaisquer adeptos presentes nas bancadas, o presidente, Volodymyr Zelensky, fez um discurso patriótico e de esperança e um soldado do batalhão Azov, ferido em combate, recebeu a honra de dar o simbólico pontapé de saída para a competição que pode ajudar a resgatar parte do moral do país.
Em dezembro de 2021 os campeonatos sofreram a habitual pausa de inverno, contudo nunca mais regressaram, pois em 24 de fevereiro eclodiu a guerra face à invasão perpetrada pela Rússia.
Muitos futebolistas e treinadores juntaram-se, entretanto, ao exército do país, enquanto vários clubes passaram a fazer trabalho humanitário e a tentar angariar fundos para apoiar o esforço de guerra.
Alguns clubes mudaram temporariamente a sede do trabalho das suas equipas, com o Dínamo Kiev - que hoje defronta o Benfica no ‘play-off’ da Liga dos Campeões - a trabalhar em Lodz, na Polónia, país que também acolheu o Shakhtar, mas em Varsóvia.
Devido à situação excecional de guerra, que resultou também em bombardeamentos de estádios e campos de jogo e de treino, a FIFA permitiu a jogadores e treinadores rescindirem os seus contratos, pelo que o campeonato deverá ter, sobretudo, atletas ucranianos.
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