O treinador português Fernando Valente confessou sentir ainda hoje “arrepios” pela possibilidade de ter sido apanhado na guerra, após convite do Mariupol, admitindo “disponibilidade” para regressar um dia à Ucrânia e continuar a promover o futebol positivo.
“Houve o convite do Mariupol, mas nunca chegou a ser tomada a decisão, nem na fase de interrupção da prova, que acontece de 15 de dezembro até à última semana de fevereiro, sendo essa uma das coisas que ainda hoje mais mexe comigo”, recordou Fernando Valente, em declarações à agência Lusa.
O convite para o Mariupol, clube da cidade portuária com o mesmo nome na região de Donetsk e uma das primeiras a ser atacadas pela Rússia, surgiu após o fim do campeonato de sub-21, decidido pela Federação da Ucrânia, e ia permitir o reencontro do técnico com 15 dos seus antigos jogadores, num clube com quem o Shakhtar tem um protocolo de colaboração.
“Não tinha que ser e, visto agora de fora, ainda bem que não aconteceu”, sublinhou, tendo presente que a oficialização desse convite o colocaria por estes dias em Mariupol.
O alívio do técnico luso esfumou-se num fósforo, acendendo-se, de seguida, a inquietante recordação do que chegou a dizer a um dos responsáveis do Shakhtar.
“Ao rebobinar as coisas na minha cabeça, lembro-me de chegar a comentar com o diretor-geral do Shakhtar, o que até parece irónico à luz dos recentes acontecimentos, que tinha lá tudo para ser feliz e que, se pudesse juntar a família, até gostava de morrer onde me sentia feliz, na Ucrânia”, contou, pensativo.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia. A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
Uma coisa é certa, “se as coisas mudarem, e estiverem reunidas condições”, Fernando Valente diz não ter problemas em regressar à Ucrânia, onde esteve e foi feliz, entre 2019 e 2021. Começou por treinar os sub-21, sendo de seguida promovido a diretor da academia de futebol do Shakhtar nos escalões mais velhos (sub-17, 19 e 21).
“Uma das coisas que me fizeram apaixonar pelo Shakhtar foi constatar que o presidente do clube partilha este lado mais estético do jogo, acreditando, como eu, que é possível vencer a jogar bem”, argumentou.
Enquanto isso não acontece, Fernando Valente está disponível a propostas, confiante na utilidade da sua experiência, que disse assentar em “processos simples que valorizam o jogo e os jogadores”.
“O futebol é para jogar e não para correr, correndo-se para jogar. Só espero que a idade não seja um impeditivo, porque as ideias são boas ou más, mas não têm idade”, concluiu.
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