Desde o início da guerra em Gaza em outubro de 2023, vários jogos da seleção israelita ou de clubes de Israel foram disputados na Hungria, onde o primeiro-ministro Viktor Orban costuma receber com bons olhos eventos de alto risco para destacar a segurança do seu país.
Debrecen foi a cidade escolhida para o jogo desta quinta-feira (28) entre o visitante Maccabi Tel Aviv e o Besiktas da Turquia, que decidiu não receber a partida da Liga Europa em Istambul.
O confronto entre Bélgica e Israel pela Liga das Nações da UEFA também foi transferido e disputado em setembro nesta cidade, a segunda mais populosa da Hungria e menos multicultural do que a capital Budapeste.
Esta política de abertura permite que Orban, muitas vezes isolado no cenário europeu, chame a atenção para os aspectos "positivos" das suas políticas, de acordo com Simon Chadwick, professor da Skema Business School, de França.
Um 'soft power' que, segundo este especialista em desporto e geopolítica, está em ascensão desde os ataques sofridos pelos adeptos do Maccabi Tel Aviv em Amsterdão, a 7 de novembro.
Poucos dias depois, a França recebeu Israel numa partida da Liga das Nações nos subúrbios do norte de Paris, sem incidentes, mas com uma capacidade limitada e um enorme dispositivo de segurança, com mais de 6500 efetivos.
Sintonia com Netanyahu
O primeiro-ministro húngaro, um líder nacionalista conhecido pelas suas posições anti-imigração, apresenta o seu país como um lugar onde manifestações pró-palestinas não são permitidas e que oferece aos judeus os locais "mais seguros da Europa", nesta altura.
A Hungria, um país da Europa Central com 9,6 milhões de habitantes, é bem vista pelos israelitas que querem ser "cautelosos", afirma a cientista política Gayil Talshir, da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Uma percepção que pode não ser totalmente precisa, segundo ela, visto que "líderes autoritários como Orban gostam de apoiar-se nas tendências antissemitas e racistas inerentes à sua sociedade para manter o poder".
O Primeiro-ministro da Hungria elogiou o almirante Miklos Horthy, aliado de Hitler, como um "estadista excepcional", apesar de estar envolvido na deportação de centenas de milhares de judeus húngaros para campos de extermínio.
O seu governo também lançou campanhas atacando o investidor judeu nascido na Hungria George Soros e seu filho Alex, "semeando o ódio e o medo", de acordo com o embaixador de Israel.
Mas, apesar de tudo isso, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu "não se importa", considera Talshir, preferindo priorizar a cooperação com um dos líderes europeus que lhe é mais favorável e que é recebido em Jerusalém como "um verdadeiro amigo de Israel".
Um entendimento cordial, evidenciado pelo convite feito por Orban a Netanyahu, apesar do mandado de detenção emitido pelo Tribunal Penal Internacional.
Sonho olímpico
Durante a era comunista, "a Hungria era um importante centro de poder desportivo" e isto "desapareceu" com a transição democrática na década de 1990, recorda Simon Chadwick. E o governo atual propôs-se a recuperar o terreno perdido.
Viktor Orban "tem a visão estratégica para o desporto que falta ao resto da Europa", diz, listando os frequentes eventos desportivos organizados desde o seu regresso ao poder em 2010.
O Europeu de 2021, o Mundial de Atletismo em 2023 ou a final da Liga dos Campeões em 2026 na novíssima Puskas Arena em Budapeste são alguns dos postos mais importantes que a Hungria conquistou nos últimos tempos.
A popularidade desportiva do país ameaçou até mesmo a hegemonia suíça em escritórios institucionais. Lausanne perdeu recentemente as sedes das Federações Internacionais de Natação (World Aquatics) e de Canoagem, que se instalaram na capital húngara.
A cereja do bolo para Orban seria receber os Jogos Olímpicos.
A candidatura de Budapeste para os Jogos de 2024, que acabou por ser concedida a Paris, foi retirada em 2017 por uma mobilização da oposição, mas Orban insiste que o sonho está vivo e que ele o apoiará "1.000%".
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