Carlo Ancelotti voltou ao tema do racismo em Espanha, na antevisão do duelo entre o Real Madrid e o Rayo Vallecano. O técnico dos merengues diz que é hora de agir e tomar medidas concretas, a começar por uma nova legislação que pune mesmo os infratores.

Adeptos dizem que gritaram 'tonto' e não 'mono' (macaco, em espanhol): "Por que normalizamos insultos no futebol? Disseram que gritavam 'tonto' e não 'macaco'. Mas isso já pode ser dito? É intolerável de qualquer maneira, tem de parar. Chamam-te filho da p%t@, 'bicha', dizem 'a tua mãe vai morrer'. Porquê?"

Hora de agir: "Temos aqui uma grande oportunidade para parar com tudo isto. E quero também dizer que Espanha não é racista, mas há racismo em Espanha, como em outros lugares. E isso tem de mudar. Estamos todos muito preocupados com o que aconteceu. Parece-me justo que se fale tanto sobre este tema. É uma grande oportunidade para melhorar as coisas."

Como está Vinícius? "Está triste. Hoje não treinou porque tem um pequeno incómodo no joelho e está suspenso para amanhã, o que abriria outro debate."

Acha que Vinícius poderá deixar o Real Madrid por causa do racismo? "Acho que não. Vinicius ama o futebol e o Real Madrid. O seu amor pelo Real Madrid é grande e ele quer fazer carreira neste clube."

Vinícius ainda espera jogar da época? "Não perdeu a esperança. Vamos ver o castigo que ele terá [pela expulsão] e vamos avaliar, dando-lhe mais ou menos dias de descanso. Se perder os dois jogos, vou dar-lhe uma semana de férias, para estar pronto contra o Athletic de Bilbao. Se perder um jogo, jogará em Sevilla."

Protocolo para casos de racismo no futebol: "Acho que está obsoleto [o protocolo]. Tinha que ser aplicado na hora em que se chega de autocarro. É ali que começam os insultos e caem os argumentos de que Vinicius é provocador. Não são casos isolados, como já dissemos há muito tempo. Não são 46 mil, mas também não são um ou dois. Duas horas antes já estavam a insultar."

Reações da La Liga e da Federação: "Estou à espera para ver o que se sucede e estou atento à Federação e Liga. É bom condenar, mas não é suficiente. Quero que seja tomada uma ação. E isso ainda não foi feito."

Que medidas extra podem ser tomadas? "Divulgar os nomes dos culpados é uma das medidas que podem ser tomadas. Em Valência, acho que não vão fazer isso. E se seguirmos essa linha, haverá muitos nomes e sobrenomes. Mas não pode ser a única medida. Se pensei em mandar os jogadores para o balneário? Sim, foi algo em que pensei, sim. Perguntei a Vinicius se queria continuar e o árbitro pediu-lhe para ele ficar em campo. A partir daí, acabou a possibilidade de deixar o jogo, mas é claro que é uma hipótese. Espero nunca ter que fazer isso, porque não quero. Existe um juiz responsável por tomar essa decisão. Mas é uma possibilidade."

Nos últimos meses, o futebolista Vinícius Júnior, de 22 anos, tem sido alvo de vários insultos racistas e, no final de janeiro, o jogador foi o protagonista de um episódio que levou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a enviar uma carta às entidades que regem o futebol (FIFA, UEFA e Conmebol) a solicitar medidas concretas para punir os comportamentos racistas e aumentar a consciencialização sobre o tema.

No Estádio Mestalla, em Valência, Vinícius, que acabou expulso depois de agredir um adversário, no final do encontro (90+7), que os ‘merengues’ perderam por 1-0, criticou a Liga espanhola e os adeptos com uma mensagem publicada nas redes sociais.

O Real Madrid também já informou ter apresentado uma queixa na Procuradoria-Geral “por delitos de ódio e discriminação” para com o internacional 'canarinho'.