Portugal saiu de Split com um empate, naquele que foi o último jogo da fase de grupos da Liga das Nações. Quem só viu a primeira parte pode achar que a seleção perdeu dois pontos, quem só chegou a tempo da segunda certamente toma a igualdade por lisonjeira para as cores lusas.

No total dos 90 minutos Portugal foi uma equipa que durou e dominou... enquanto teve pernas, acabando por passar um mau bocado nos minutos finais. De um domínio total, que se traduziu num golo e ainda num punhado de boas oportunidades, a equipa lusa passou para o sofrimento perto da sua área, e que por pouco não se traduzia numa derrota.

É certo que Portugal já não tinha nada em jogo, alcançado que já tinha sido o grande objetivo; contudo, e numa partida onde não estiveram presentes alguns dos habituais titulares, é difícil chegar a uma conclusão, não da qualidade das opções ao dispor de Martínez, e, mais antes, da capacidade do selecionador em geri-las e lançá-las na altura certa.

O jogo: Do 80 ao 8... e quase ao zero

Com a qualificação e o primeiro lugar no bolso, Martínez fez muitas mudanças no onze inicial, deixando apenas quatro dos titulares diante da Polónia, e promovendo a estreia de Tomás Araújo. Para além das alterações no onze, o selecionador promoveu alterações do foro tático.

Se a equipa atacava em 3-5-2, com Nuno Mendes ou Semedo a juntarem-se aos centrais na altura de construir, na defesa o sistema passava para 5-3-2, mais pelo meio andava João Cancelo, a procurar apoiar o trio do meio-campo e fazer ligações com o ataque.

E a verdade é que desde cedo que Portugal tomou conta do jogo, explorando principalmente o lado esquerdo e o bom entendimento entre Nuno Mendes e Rafael Leão para chegar perto da área croata. O avançado do AC Milan foi o primeiro a ameaçar com um remate que obrigou Livakovic a aplicar-se.

A reação da equipa da casa à entrada lusa foi tímida, e não preocupava de sobremaneira o setor mais recuado de Portugal, que continuava por cima e traduziu a sua superioridade em golo; lançamento delicioso de Vitinha, receção não menos brilhante de João Félix que, com muita classe, fez o primeiro do jogo.

O golo despertou a Croácia da letargia, e a reação tornou-se efetiva, com dois lances quase consecutivos que não deram em golo devido, primeiro à boa mancha de José Sá, e depois ao poste direito do guardião português. Respondeu de pronto a seleção portuguesa com João Félix e Rafael Leão também a desperdiçarem boas ocasiões. O intervalo chegava e esperava-se uma segunda parte, pelo menos, idêntica à primeira.

Um desejo que se viu gorado. Com efeito, os croatas vieram para o segundo tempo com outra agressividade e energia, algo que era precisamente o que parecia escassear para os lados lusos. O fulgor e capacidade de ter bola foram esmorecendo à medida que as pernas foram falhando...para ajudar, do banco não parecia haver sinais de mudanças no horizonte.

Perante este cenário, e mesmo sem grandes oportunidades, o golo croata parecia aproximar-se. Depois de um primeiro aviso, Gvardiol chegou mesmo a marcar; com Portugal quase todo encostado à sua área, Jakic cruzou para o segundo poste, onde apareceu o defesa do Manchester City a desviar para o 1-1.

Só depois da casa assaltada é que Martínez pôs trancas à porta, fazendo entrar Fábio Silva e Francisco Conceição. Portugal melhorou e esteve muito perto do golo por Nuno Mendes; contudo, a Croácia mostrava-se agora com outra postura e mais confiante na sua capacidade de ferir o adversário.

Os últimos 15 minutos, apesar de jogados a um ritmo mais baixo, foram de domínio croata. Não mais Portugal voltou a criar perigo e foi a equipa da casa a dispor de muitas e boas oportunidades para dar a volta ao marcador; aí brilharam José Sá, com três defesas importantes, o poste, que travou um remate já dentro da área, e ainda Diogo Dalot, que tirou o 2-1 em cima da linha já perto do fim.

É caso para dizer que foi bom, muito bom, enquanto durou. Daí em diante deu-se o estoiro, que por pouco não resultou em explosão.

O momento: O futebol simples dá trabalho, mas também dá gosto

Corria o minuto 33, Portugal continuava a dominar, isto apesar de uma tímida reação croata. Como tanto gosta, Vitinha pegou na bola, levantou a cabeça e lançou João Félix com um passe magistral, apenas igualado pela receção do avançado luso que, na cara de Livakovic, não desperdiçou e fez o golo da equipa da quinas.

O melhor: Uns chamam-lhe Vítor, a bola chama-lhe Vitinha

Após a excelente segunda parte diante da Polónia, Vitinha mereceu a confiança de Roberto Martínez que manteve o médio no onze para o jogo na Croácia. Num sistema tático marcado pela fluidez e constante mudança de posições, Vitinha foi sempre o farol da equipa, a referência por onde passava todo o jogo ofensivo da seleção nacional.

A bola como que reage de maneira diferente ao toque do médio português, como se de um ser vivo se tratasse, e este responde em conformidade, fazendo-a chegar sempre ao seu destino. Exemplo perfeito é o lance do golo português, com um passe teleguiado do médio do Paris Saint-Germain que, em abono da verdade, beneficiou também da fantástica receção de João Félix, que finalizou da melhor maneira.

O pior: Cancelo, nem vê-lo

Para esta partida, Roberto Martínez fez muitas alterações, não só no onze, como também no sistema tático. Nos corredores era onde essas diferenças mais se notavam, e onde Cancelo aparecia em zonas mais interiores, isto perante a subida de Nélson Semedo pelo corredor direito.

O jogador do Al-Hilal nunca se conseguiu adaptar a este estilo de jogo, passando ao lado do mesmo, até nas alturas em que Portugal esteve por cima. Na segunda parte, a menor qualidade coletiva da equipa das quinas não contribuiu para que Cancelo melhorasse o seu desempenho, e o lateral foi mais um a tentar segurar, primeiro a vantagem, e depois o empate.

O que disseram os treinadores:

Roberto Martínez, treinador de Portugal