Os incidentes na entrada dos adeptos no Stade de France que aconteceram na final da Liga dos Campeões da temporada passada ainda são motivo de debate e agora surgem novas revelações que colocam a UEFA entre os principais culpados.

Esta segunda-feira, o jornal The Guardian publicou um documento que apresenta algumas conclusões de um estudo levado a cabo por um painel independente nomeado pela UEFA para investigar os referidos incidentes e a responsabilidade máxima é mesmo atribuída ao organismo que tutela o futebol europeu.

Em causa está uma falha no protocolo de segurança que, segundo o referido relatório, poderia ter causado uma "catástrofe com mortes em massa".

Segundo as conclusões da investigação independente, liderada pelo antigo ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, é à UEFA, “como detentora do evento, que comporta responsabilidade primária pelas falhas que quase levaram a um desastre”.

"É notável que ninguém tenha perdido a vida. Todos os elementos entrevistados pelo painel concordaram que esta situação foi um quase acidente, um termo utilizado quando um evento quase se torna numa catástrofe com mortes em massa", pode ler-se, numa nota que também confirma a utilização de gás lacrimógeneo e gás pimenta pela polícia ainda fora do recinto desportivo.

Para além da UEFA, a Polícia de Paris e a Federação Francesa de Futebol também estão entre os visados.

A vasta lista de conclusões elenca a má gestão do volume de pessoas a chegar pelas várias entradas do recinto, defeitos nos acessos, grupos de locais que atacaram adeptos, tentando provocar confrontos, o mau policiamento e a falta de planos de contingência.

A mudança abrupta do local de realização, de São Petersburgo (devido à guerra na Ucrânia) par Paris, foi outro fator apontado, além de questões como a bilhética, de um sistema duplo que introduziu confusão e problemas aos bilhetes falsos e a tentativa de forçar entrada por pessoas sem bilhete, são críticas deixadas no penúltimo capítulo do documento, ainda que a questão quanto a ingressos forjados (ou inexistentes) não seja conclusiva quanto à importância na disrupção do evento.

As críticas sucedem-se aos vários momentos, incluindo-se o adiamento do pontapé de saída, devido aos confrontos e ao 'caos' que introduziu no acesso às bancadas, mas a forma "confusa" como este ocorreu não escapa, bem como a falta de comunicação desta medida para fora do estádio.

O comité deixa um total de 21 recomendações fundamentadas para UEFA e autoridades, depois de ficar claro, quanto aos incidentes no Stade de France, que "o ocorrido na final da 'Champions' foi largamente o resultado de mau planeamento, falta de supervisão, pobre interoperabilidade entre os vários 'stakeholders' e falta de contingências".

"Concordamos, neste aspeto, com as conclusões do Senado de França. Contudo, como detentor do evento, é da nossa opinião que foi, em última análise, a UEFA que tinha a reponsabilidade pelo falhanço destes vários 'stakeholders' para que cumprissem a sua obrigação partilhada de respeitar a Convenção de Saint-Denis", lê-se no documento.

Assim, o modelo de policiamento para a final era "inconsistente e desajustado ao propósito", com uma abordagem "demasiado securitizada, com ações unilaterais por parte da polícia" e ideias "mal concebidas quanto a ameaças à ordem pública", má cooperação e o uso excessivo de gás lacrimogéneo e outro material dispersor.

A final da competição, recorde-se, acabou por começar mais tarde do que era previsto e terminou com a vitória do Real Madrid sobre o Liverpool por 1-0.